sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Espadas


Passos melífluos são esses teus que danças,

Singelos, de espadas cruas e frias.

Essas que não conhecem dono,

Essas que deslizam suaves,

Por encantos que conhecias.

E sem amor amado,

Fieis ao sangue que se destila,

Correram, de lado a lado, o peito

Que no seu seio sustia

Cada pedaço despedaçado,

Dissolvido nas cadentes brisas

Do eterno fado que perdias.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Retrato Negro


Crio e recrio entranhas,
Pinto céus de manhas
Tuas por prazer.

Sorris só por sorte,
Risonho consorte,
Que me consome no morrer.

E és beleza sem sabor,
Sonho rebelde e desamor,
De ameias desdenhosas.

Choras rimas de lamentos,
Gritas vis os desalentos,
Das tuas túrgidas rosas.

E sem crepúsculo, noite ou dia,
Definhas, sombra luzidia
De bárbaro bucólico.

Não és deus, e se anjo és,
Corrompes santas as fés
Do santo demo diabólico.

Perco assim vinganças
E lanço ao mar lembranças
Vãs de tão vazias.

Retrato a negro pintado,
Baço de apagado,
És descuido que por fim fugias.

Morte!


Morte às armas, morte aos barões!
Morte! Que o destino a espada é trespassado
Por sedentos e vis leões.
Morte! Que desgraçado é este Passado
Nas garras do tempo apagado.

Morte ao Império, morte às lembranças!
Morte! Que a esperança, essa última já morreu,
Nas ameias que entranças.
Morte! Que os mortos são o que prometeu
Aquele Futuro nosso que se perdeu.

E que Presente é este, meio morto,
Que se não dá ao prazer da vida?
É o que se esvai, de pensar, absorto,
Nos erros da vida ida.
Por isso, Morte! Que a vida é fingida.
(Dedicado aos grandes poetas Luís de Camões e Fernando Pessoa)