sábado, 6 de março de 2010

Sem título


Seja o sangue o licor rubro,
Que degustas da densa chaga
Dos sem coração.

Seja essa a vida do absurdo,
À tormenta do termo levada,

Seja confim, o do futuro,
Quanto no peito dormitava,

Seja o dito mito imaturo,
O que por escrito falava
Na abnegação.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Voz do Coração


Valentim? Que dia este ecoa
O eco desvanecido do tempo a passar?
Ah! É somente um dia que se esvai
Hirto, de sorriso erguido, clamando amar.
Que no peito enternecido, idílica voz
É canto e sinfonia por vós!
Vós? Oh! Quem sois?
Somente aqueles que escutam
Voz cantante que sussurra muda,
Sentires atentos de desalentos,
E ternuras tão rubras de alma nua!
Sim, vós que me ouvis,
Vós que a mim sorris.
Que canto alto, tão alto,
Meus amores amados,
Para assim vos oferecer o Fado
Meu, o Destino a comandar.
Que não é mais este dia que um dia vão,
Tão vão que me eis a amar,
Dia após dia, perdida
Por palavras a ponderar
Com desdito coração.
Mas treme-me e eu hesito,
Temente aquela que escreve, minha mão,
E permaneço só com palavras,
Mas em voz digo, com o pensar,
Que só a vós sei amar.

Para todos os meus amigos fofos ^^

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Fim do Passado


Ship, by Hymnodi

No dormente subentendido,
Falhei o golpe de morte inata.
Entrei na vaga maré vadia,
Voguei por vontades, sem vê-las,
Levado ao termo das tormentas.
E pereci por elas.

E que paraíso desencontrei,
Díspar do fogo do Fado onde ardo,
De cerne incandescente de afogado,
Nesse mar que ruge revolto,
Enterrado na terra nossa,
Do antigo Passado.

Memórias, lembranças…
Reminiscências remotas sem rota,
Caiadas no branco descolorido
Do que um dia era pintado,
Do mar o azul índigo,
E da terra o verde esperançado.

Aqui, morri contigo em mim,
Barco ao largo naufragado.
Coração meu, que me guiaste cego,
Tão cego, de mãos ao leme,
Agora decomposto, meu corroído Fado,
Que é o fim do Passado.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Ser poeta...

Ser poeta é saber cantar ao mundo o encanto do que se não vê,
É dar vida ao morrer e fazê-lo crescer em sorrisos de fadas,
Dançar ao ritmo da natura que se escreve e ao som das palavras,
É questionar o questionado e sabido, e dar-lhe um sentido
Diferente ao olhar e de erguida alma pendente.
Que o poeta é um cego que tudo vê, tão são de demente.
Um poeta é assim eterna gente.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Brisa de Gelo


Brindo à branda brisa que gela,
Levando o tom contido consigo.
Irmã essa do tom que folgo,
Somente daquele achar que vem vindo,
Sonho dado de frio em fogo,
Frio tão frio que incendeia a alma,
Rouba da triste o gélido, seu amigo
Ornado e fiel, que é dito consigo,
Sidéreo o espírito que canta baixinho,
Tom tão frio de aquecido,
Na sua brisa de gelo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Crepúsculo


Ten of Swords, by Puimun

Repousei, de respiração vagarosa
Caminhando semi-passos de prosa,
Enquanto os versos corriam de mãos dadas
Sem esperar a pausa do descanso,
Inspirando o folgo inexistente.

Escaparam-se do olhar.
Perderam-se no horizonte obscurecido
Do decair diurno, enquanto a estrela mãe
Murmurava a sua despedida.
Partiram com ela.

E então, o crepúsculo cobriu-me.
Tão ledo e sussurrado, uma fracção de tempo
Tomada à noite que se erguia.
E ergui-me eu, no súbito do obscurecer,
Pois a ele não o queria.

Senti o afagar daquele redor que no adormecer
Sonhava por acordar noutra vida, e sorri.
Quão belo era aquele passar que não se coibia
Da maravilha de o ser no seu escasso tempo,
Aquele tempo que seria meu.

E abarquei-o com um abraço.
Apertei-o de encontro ao peito que gelava,
E absorvi-o, aquele que não era noite nem dia.
Aquele que não era calor nem frio,
À brisa amena.

E sim, seria eternamente meu.
O meio-termo que dita o fim e o início,
Na sua intrínseca fusão.
Um dos corações do mundo,
Preso ao meu coração.

Encerro o olhar para adormecer com ele,
Mas eis que oiço um canto
Em línguas passadas e idiomas por gerar,
No berço do correr do tempo
Do qual nascera.

Um canto histérico e murmurado,
Um cantar de eterna e dolorida alegria
Que se martirizava em prantos
Da sua perpétua e leda agonia.
Que eles tinham regressado!

Aqueles fugidios calcorreantes do mundo,
Almas doces e amargas de antagónico pensar,
Retornaram à pátria deste mundo e curvaram-se,
As mãos estendidas ao crepúsculo,
Convidando-o a dançar.

Que agora o meu bem-amado seria deles,
Enquanto eles seriam meus. Ambos meus.
Os Versos e o Crepúsculo. Talvez Versos Crepusculares.
Abrigados dos que se diziam reis,
Mas que, no entanto, não o eram.

E, numa noite remota de um tempo futuro,
Partiria à conquista do Amanhecer.
Que o Dia e a Noite seriam meus, sem o serem,
E os versos cantariam tão mais alto!
Para que deles os deuses não se pudessem esquecer.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Versos Soltos...


Ponto por ponto, pesponto
Pura ponte pela qual passarei.
Que para passar além
Do prado por onde passeei
Pintei de pontos a ponte,
Pela qual passei.

*

Mor era a vida cantada
Ontem, que a cantei alto.
Rugi como quem espanta
Gorda a morte que se empanturra!
Ora, cantei tão alto que enrouqueci,
Minha voz esvaiu-se,
Irrisória deste cantar onde prometi
Rir e cantar até que a voz se escoe.

E, por fim, morri.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O Canto da Sereia

O suave canto do rouxinol
É somente um esgar retorcido
A par do tom que exaltas.
Exímia a melodia que é contigo,
Tua vida e teu querer,
Teu poder de ser,
Tua mania, tua vontade.
Sinfonia leda que me embala
E resguarda das teias da verdade.
Que adormeço no teu cantar,
Adormeço e avanço tão cego,
Que me cegas da alma o pensar.

(Pertencente ao capítulo IX do Prín.)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Era uma vez um Sonho


Her Strange Pilgrim, by Forlorn Existence

De quando em vez era passado,
Lembrança esguia de alma pura.
Era o passado daquela vez,
Em que foi ela donzela e candura,
Inocência de insensatez
Insana, se desmedida a ternura.

E era uma vez naquele jardim…
Era? Se era não sei,
Mas que foi um dia, em mim,
Que a vi, donzela e graça também.
Ai de mim, espadachim,
Que naquele jardim sonhei.

Que era bela a donzela,
E donde a espreitei fugi, correndo.
Bela, que era senhora,
A daquele jardim que não entendo.
Ai de mim, que era a hora,
Que na demora se esvai o vento.

E corri, corri… ai de mim,
Que acordei ao seu alcance,
Naquele seu jardim de jasmim
De tempos idos, meu romance.
Acordei, que não era eu o fim,
Mas o que fui em vida, seu nuance.

Que era uma vez um sonho,
Que outra vez sonhei.
Sonho meu, só meu.
Sonho de mim, sonho dela que sonhei.
»Minha donzela, sou teu Romeu,
Rumo ao sonho que eternizei.

sábado, 28 de novembro de 2009

Acróstico (III)


Dream, by guggenheimgrotto

Ah! Nada sei.
Nada de quanto havia
A saber na Sabedoria.

Cantado o absorto do surreal,
A momentos de tempo infinito,
Tomei pedaços pintados em cor de sonho,
Aquando este meu passear de risonho
Riso se vivo o não saber
Inato ao não sabido do conhecer, que
Nunca soube o que havia
A saber, um dia.

Argonauta fui, nesse mar de desconhecido,
Lado a lado com o prazer de antever
Brumas, as da magia,
Ubíquas de dia e noite de breu,
Quando em seu vulto se obscurecia,
Ululante o vagar do surreal nascer.
Enquanto era crepúsculo que o dia e a noite são,
Rumei sabendo o não saber
Que era bússola só o coração
Um guia cego mas que via
E esperei o que não sabia.

E enquanto esperava
Urdir o não saber no que não sabia,
Soube que sob intenções disformes
É o conhecimento vivido e navegado.
Barco à vela nas intempéries
Imaginadas, que são brisa e vento
Olvidado nas marés do pensamento.

Dedicado à minha querida
amiga Catarina

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vazio


Fog, by Flugcojt

Dor?
Não a sinto,
Que sou um pedaço de vazio
Resgatado à corrente vaga do nada.

Puro e impuro. Depuro
Todos os termos que são nada
E eu um tudo,
Vago o conceito de ser um ser,
Se é certeza o não ser incerto.
Incompleto o doer de ser,
E por isso não serei,
Meu amor vazio,
Que não te sinto.

E o que te leva a sentir?
Pergunto, discreta, em murmúrio fosco,
Que o não ouvir canta em sinfonia leda
E o escutar é martírio à alma.

Por isso não respondas,
Que não te ouvirei.
O vazio é surdo.

Não te entreponhas entre mim
E a díspar cor que não vês.
Que o vazio é cego.

E não me oiças.
O vazio não é mudo,
Mas não sente o que diz.

E o que não é vazio é defunto,
Meu defunto amor, que sou vazio,
Aquele que vagueia em tudo
Na esperança de te sentir.

domingo, 22 de novembro de 2009

Caminho entre o Mar

Desmontou do cavalo e colocou-se lado a lado com Landar. Atirou a capa para trás das costas, de forma a não lhe estorvar os movimentos. Enquanto isso, Liriana colocou Karai no chão, antes de ela própria abandonar a sela de Sirin. Não ousou perguntar o que iria fazer a irmã. Talvez invocar uma embarcação caída dos céus.
- Ai, tenho de ver este espectáculo – comentou Leonardo, posicionando-se ao lado de Alexis, de braços cruzados. – Vocês as duas venham também. A última vez que alguém viu isto foi há já alguns milénios atrás.
O que poderia animar o necromante assim tanto, levando-o ao termo de usar exageros que incluíam vastas porções de tempo? Aproximou-se, levando Karai pela mão e esperou para ver o que aconteceria.
Alexis arregaçou as mangas da camisa até aos cotovelos, mostrando o quão pálida era a sua pele. Esticou os braços à sua frente, e anuiu-os pelas palmas das mãos, em direcção a Este. Após assumir aquela posição, as palavras brotaram-lhe dos lábios, num tom alto de invocação que os rodeou e se espalhou pelas profundas águas em redor.
- Deminir ê phoroin vir danark, ye falanar theluin se ulidarn. Lessir ê Thornigan vir certhon, gladh, milno kandell, dyrin ye sar. Voloner aferi ceri vir kirdanl sem argani, jian iemorion se uthillavar vuanor. Lessir damar fyoni, milne halnaners ceri lnimars iemorsa bredins holunner.(*)
Para Norte e Sul, as ondas embateram de encontro aos rochedos com mais força, espumando de forma quase agressiva, enquanto tentavam trepar por eles acima. Na praia, as gaivotas levantaram voo súbita e simultaneamente, deixando algumas penas para trás, ao verem que as ondas se aproximavam das suas patas de forma anómala, como se a maré mudasse inesperadamente. A superfície do mar tornou-se mais turbulenta, como se os movimentos na massa de água modificassem as correntes radicalmente.
Sentiu um puxão na mão quando Karai se aproximou mais da beira do monte, espreitando curiosa para o fundo. Os sedosos cabelos brancos pendiam soltos da trança em finas madeixas que pareciam puxá-la para baixo, através da gravidade. No local onde a criança focava a sua atenção, um sulco em linha recta começou a aprofundar-se sobre as águas que rugiam em fúria não reprimida, separando as partículas quase infinitas em duas partes distintas. E entre essas duas porções de água, abriu-se um trilho forrado a areia molhada e flanqueado por dois muros de água que iam crescendo em altura, à medida que o caminho descia, até às profundezas do Mar do Interior.
Alexis baixou os braços, observando o seu feito num tom crítico. O caminho que atravessava as descobertas entranhas das águas deveria ter no máximo três metros de largura. Mas quantos não seriam os de comprimento, ao longo de todo ele, assim como os de altura? Iria ser uma viagem claustrofobicamente inesquecível.
- Acabaram de conhecer a encarnação de Moisés! – Disse Leonardo, com um sorriso de orelha a orelha.
Apesar do tom divertido da afirmação, não deixou de concordar de todo com o significado inato. Nada poderia descrever o poder contido no feitiço que Alexis proferira. Se ouvira falar dele, fora muito remotamente, quando lera o livro dos Deuses. Não atentara em muitos dos feitiços por lhe parecerem pouco práticos ou mesmo inúteis. Deveria ter catalogado este com o mesmo título. Mas eis que revelava a sua utilidade, uma utilidade que ultrapassara a sua imaginação.

(*)Adentro o profundo se encobre, em vagas negras de escuridão. Quando o Sol se extinguiu, cresceu por consumir, fechado em si. Mas eis que se abre à luz, trilho este de passado oculto. Quando perdido encontrado, pelas palavras que invocam esse caminho encerrado.

(excerto do Prín.)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Suserana da Noite


Dancers in the Dusk, by Puimun

No entardecer que o céu ilustra
A laranja e carmesim,
Diviso um final firme no horizonte
Onde se encerra o mistério pardo.

Que quando for rei o crepúsculo
No seu mísero reino de tempo nenhum,
Abrirá os sete cadeados fechados
E libertará o escondido no além.

Além, muito para além, aguarda a noite.
Trajada em veludo de escuridão,
Marchetada de jóias em ouro e prata.
Que se erguerá a suserana.

Liberta por fim e viva, que é bela,
A donzela do luar formoso,
É fogo ebúrneo que se acende,
Para os amantes do profundo,

Que a sua cantiga é solidão,
Mas alegre solidão de melancolia.
Um sonho áureo de tempos antigos,
Que foi ontem real, ontem, tão distante.

Hoje é lenda e amanhã será mito,
O da senhora suserana de além um dia.

Para a Fifi ^^

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Boneca de Trapos

Silêncio. Um ténue raio de sol penetrava através das fendas estreitas da madeira apodrecida de velha, alumiando o pó que flutuava etereamente em seu redor, uma chuva que revolteava ao mero sopro e não molhava ou era fria. Esticou o pequeno braço branco, fechando a mão sobre o pó. Aqueles fragmentos ínfimos faziam parte de si, crepúsculos de um inato que se desfazia e se escapava através do tecido que era a pele fina, compondo a atmosfera abafada que se revolvia, no lar de solidão que habitava.

Antes, não dava especial atenção àquelas partículas. Só pensava nos sorrisos de alegria que revibravam vivos naquela mesma casa, sorrisos que ela própria fazia sorrir, alimentando-se de carinho e amor, tal como era ela alimentada. Mas agora ninguém a alimentava. Há quantos anos passaria fome? Esquecera-se do passar do tempo naquela cabana apodrecida do topo da árvore. À sua frente, repousava uma chávena de chá inundada em água turva. Conseguia ver o seu reflexo no líquido que nunca evaporara e ali permanecera, o chá que partilhara com a sua senhora menina que um dia partira. E ali a deixara viver de sede, sede de querer ser abraçada novamente, sequiosa daquele toque suave, do pente nos seus cabelos de tiras castanhas, agora também poeirentas, ruídas pelas traças incessantes, tão esfomeadas quanto ela. Ao contrário da sua pequenez pessoa que nunca fora, os insectos tinham o que comer. Comiam-na a ela e à sua mansão. Comiam o que era seu. Talvez também tivessem comido a sua senhora menina, aquelas térmitas desditas.

Deixou pender o braço que erguera para apanhar o pó que era seu, e a casa caiu, tal como a vontade de viver da pequena boneca de trapos.

(Não saiu nada do que eu queria -.-')

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ditador



Crown Without a King, by Rawimage

Misericórdia? É um conceito inglório
De cruel ventura ditada aos fracos.
Não possuo eu o que me é vão.
Que da complacência ganho um marco
De rocha erodida, a abater,
Promontório cadente. Mas não cairei,
Dito a Vontade e sou a Lei,
Legado do frígido fogo do poder
Que constrange e silencia,
Que incendeia e queima em cinza
A alma viva que é a morte que almejo
À sua vontade caída.

(Capítulo VIII - O Príncipe Akuirien, do Prín)

domingo, 25 de outubro de 2009

Decaimento


Decay, by Sephiroths Heart

Decresço.
Do ínfimo ponto a que chamam alma
Sobram réstias de véus rasgados,
Antros molestados por térmitas
Da carne.

Floresço.
Que com pétalas murchas
Movo mundos mortos em dor,
Donde os gritos são cantos de musas
E Parcas.

Vivo.
Sabe a vida o que é viver
De crânio em mãos se a questão
Por saber é ser ou não ser,
Que não sou.

E morro.
Se não é a imortalidade que oiço,
Insanidade de mente caída
Esta que mendiga migalhas
Ao coração.

sábado, 24 de outubro de 2009

Agradecimento


Com este post quero agradecer ao Afonso pela honra de me ter premiado com este selo.
O seu blog é um local tocado por uma enorme sensibilidade, que muitas vezes não consigo incutir aos meus poemas. Os meus parabéns ao seu trabalho e aos seus sentimentos.

Beijinhos!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Deus das Alturas


God of Thunder, by Suirebit

Do Nunca era aquele que se perdeu
Lá em manhãs de gelo áureo.
Acerbo de paladar corpóreo,
No tinir álgido de pedra dura.
Sendo ele o que ficou tisnado
De fogo em frio, assim queimado,
Lá no Nunca das Alturas.

Que quem o via bem dizia
“Ai de nós, que se nos dissolve o pranto,
Do peito caído, de coração aberto”,
Conquanto se queda desta altura,
E demorada a queda é vontade
O voar plúmbeo da verdade
Viva se vã que das alturas o esconjura.

Mas ele não cai, é perene ao frio
E do vento irmão de comunhão sagrada.
É sabido assim deus do que foi,
Do Nunca que um dia marchou
Nas alturas do devaneio em vida,
Real ventura a que foi um dia
E que ao largo em si ancorou.

Então, aqui fica a lenda,
Dos que ascenderam e tombaram.
Fica, mas não se esvai,
Que o almejar é perpétuo querer
O de um dia esse deus despertar,
E ao seu povo dormente retornar,
Das alturas a que se elevou ao morrer.

Dedicado a'O Bar do Ossian

sábado, 10 de outubro de 2009

Coração do Mar

Escuta o marulhar fresco
Que te chama em tom de água.
Que é gélido o seu apelo,
De negro o soar contido.
É voz trémula de mágoa,
Esse grito rouco em gorgolejo...
Que és só tu e tu o seu desejo,
Esvanecido na lassidão.
De profundo em profundo,
Mais que profunda imensidão,
A daquele abismo íngreme
Para os confins do coração.

(Prín - Capítulo VII - O Mar do Interior)