segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Não há silêncio


Não há silêncio
Que não possa ser ouvido,
Nem palavras
Cujo não dito
Fique por dizer.

Porque o silêncio fala
E, mesmo mudas,
As palavras gritam
Pensamentos proscritos
Que temem viver.

*

There is no silence
That cannot be heard,
Nor unspoken words
That remain
To be said.

Because the silence speaks
And, even mute,
Words scream
Outcasted thoughts
That fear to live.

domingo, 10 de julho de 2022

Sois dos poemas o mais belo


Sois dos poemas o mais belo,
Escrito a tinta de utopia e sonho,
E teus versos têm de singelo
O compasso da coragem
E a melodia da esperança
Que ecoa onde a alma
É ainda criança.

*

You are the most beautiful poem,
Written with ink of utopia and dream,
And your verses have of innocence
The compass of courage
And the melody of hope
That echoes where the soul
Is still a child.


Hurad Duruvan

domingo, 26 de junho de 2022

Conto e reconto o conto


Conto e reconto o conto
Que ninguém sabe contar,
Sendo ninguém ao olhar
Daqueles que afronto,
O incapaz e ignorante tonto
Que não podem ignorar.

*

I tell and retell the tale
That nobody knows how to tell,
Being nobody at the eyes
Of those I affront,
The inept and ignorant fool
They cannot ignore.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Be aware and beware


Be aware and beware,
Because Time does not forgive,
Time does not forget,
And even the deceased,
With a whisper, will tell
That the Void beyond death
Is not Heaven, is not Hell,
But a condescending ocean
Where their spirit fell.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

É utopia a distopia


É utopia a distopia
Daquele que sonhou
E na fé findou.

Rezam agora
À quimera de alguém
Que é ninguém.

*

It is utopia the dystopia
Of the one who dreamed
And in hope deceased.

Now they pray
To the chimera of someone
Who is no one.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Inexistência de não Sentir


Sinto, não sinto,
Ou finjo
Não existir,
E a mim minto,
Na inexistência
De não sentir.

*

I feel, I don't feel,
Or pretend
I don't exist,
And I lie to myself
In the inexistence
Of feeling nothing.

Ayalal Duruvan

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Ora às horas

Ora às horas
E ao tempo que há a passar,
Para que não passe,
Pare,
Para que não s'apresse,
Tarde,
Sem tarde ser.
Pare ele de correr,
E seja somente as horas
Que com a vida
Te demoras.

domingo, 28 de março de 2021

O amor é mito que alguns buscam


O amor é mito que alguns buscam,
Sem encontrar,
E outros ousam não acreditar.

Fechada a cortina do mundo,
O horizonte de amar
Espraia-se longo em seu aguardar

Pelo passo tímido ou de temor,
Pelo de curioso caminhar,

Pelo passo furtivo ou de fervor,
E pelo d’intrépido sonhar,

E aguarda por quem não o busca,
Buscando surpreender
Com cada passo de seu entender

Imprevisto, infindo, incerto
Do que é ter,
Contudo tão livre de ser.

*

Love is a myth that some seek
Without finding,
And others dare not to believe.

After the world’s curtain falls,
The horizon of loving
Stretches long in its waiting

For the shy or fearful step,
For the curious walk,

For the furtive or fervent touch,
And the intrepid dreaming,

And it waits for those who do not seek it,
Seeking to surprise
With each step of its unforeseen, endless,

Uncertain understanding
Of what it is to have
And yet be so free.

Ayalal Duruvan

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Pedem-me bravura


Pedem-me bravura,
Enquanto me dão
Um barco no mar aberto
Da solidão.

*

They ask me for bravery
While giving me
A boat in the open sea
Of loneliness.

Ayalal Duruvan

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A fome de ser do mundo


A fome de ser do mundo
Dita devaneios à mente que deseja
Um possível que, tão distante,
Se perde para ser inveja
No almejo inconstante.

*

The hunger of belonging to the world
Dictates daydreams to the mind
Which desires a possibility
That, so distant, loses itself
To be envy in the fickle wish.

Ayalal Duruvan

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Pouso meu mundo em tuas mãos


Pouso meu mundo em tuas mãos
Ternas, eternas,
Conquanto efémeras,
E vivo acordado um sonho
Que do singelo e belo entrança
Nuances de teu sorriso, botão de flor,
Pétala a pétala, romance e cor
Viva que tinge a lembrança
De meu amor.

*

I rest my world in your tender, eternal,
Although ephemeral, hands,
And, awaken, I live a dream
That from the simple and beautiful weaves
Nuances of your smile, flower bud,
Petal to petal, romance and bright colour
That dyes the reminiscence
Of my love.

Ayalal Duruvan

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Tão certa quanto a mentira


Tão certa quanto a mentira,
Minha palavra hesita.
É indecisão deixá-la partir,
E certeza que seu tardar
Corrói o que de mim
Se deixou ficar.

*

As certain as the lie,
My word hesitates.
It is indecision to let it go,
And certainty that its delay
Corrodes the part of me
That remained behind.

Ayalal Duruvan

domingo, 3 de janeiro de 2021

Quando a Morte a mão estender


Quando a Morte a mão estender,
Atenta e escuta a Vida:
Ela é sussurro e ária na brisa
Que dança desde o nascer.

É de todos e de ninguém,
E conta uma história invulgar.
Quiçá esteja a tua por terminar
Nos lábios que não tem.

*

When Death reaches out,
Watch and listen to Life:
It is whisper and aria in the breeze
That dances since birth.

It is everyone's and nobody's,
And it tells an unusual story.
Maybe yours is still to be finished
On the lips it doesn't have.

Ayalal Duruvan

sábado, 2 de janeiro de 2021

Somos escravos do parecer


Somos escravos do parecer
Que precede a razão,
Reunindo em nós as que são
Falácias do crer
E verdades em vão.

Ayalal Duruvan

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Com tuas lágrimas criaste um oceano


Com tuas lágrimas criaste um oceano
E um vazio em ti,
Tão negro quanto o mar mais fundo,
Tão denso que só a indiferença
Restou em teu corpo
Moribundo.

*

With your tears you created an ocean
And an emptiness in you
As black as the deepest sea,
So dense that only indifference
Remained
In your dying body.


Ayalal Duruvan

sábado, 19 de dezembro de 2020

Foge para não veres


Foge para não veres
O medo no olhar
Dos que fugir não podem mais;
Foge e esconde-te sob o véu
Do fingir que não se vê
A dor que é dos demais;
Foge e com isso sê
Não inocente, culpado e réu,
Que em tua fuga os matais.

*

Run away so you can't see
The fear in the eyes
Of those who can no longer flee;
Run away and hide under the veil
Of pretending you don’t see
The pain from the others;
Run away and with that be
Non-innocent, defendant and guilty
Because you kill them
In your escape.

Ayalal Duruvan

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A sinceridade é arma


A sinceridade é arma,
A qual mata e salva
Sonhos, ideais e vidas
Desentendidas.

Quando embainhada,
É trégua e ameaça velada,
A aguardar a mão
Que a cravará no coração.

*

Sincerity is a weapon
Which saves and kills
Misunderstood lives, dreams
And ideals.

When sheathed,
It is truce and a veiled threat,
Waiting for the hand
That will pierce it through the heart.

Ayalal Duruvan

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Perdoa-te


Perdoa-te,
Se te persegue o pensamento
Que a alma não permite
Serenar.

*

Forgive yourself
If it persecutes you, the thought
That your soul does not permit
To pacify.

Ayalal Duruvan

Habita em mim, escondida


Habita em mim, escondida,
A sombra do passado.
Subtil, ela volve o fado,
Estirando o fio da vida,
E com ele borda a teia,
Na qual prende e enleia
Cada passo dado,
Ao passo que há a dar,
Para que meu seja o tropeçar,
O tombo descuidado,
E o não avançar.

Ayalal Duruvan