segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Oiço da insensatez o eco


Oiço da insensatez o eco 
Que entoa na memória… 
E silencio-o. Serei cego 
Àquela voz, de Vós, 
Que declama a vontade, 
E não verei
Amarga a saudade 
Que seduz.

Ayalal,
28, Arodus, 4711

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Oiço vozes de ninguém


Oiço vozes de ninguém,
Ao apagar a luz
Do olhar.
Oiço-as chamar,
Gritam,
E só de mim responde
O intangível
Escutar.

Bebo o eco da sua dor.
Consumo
Cada detalhe que se contorce,
Cada vestígio, cada suplício,
Cada suspiro sem ar,
E torno-os no rio
Que só na lágrima poderá
Desaguar.

*

I hear voices from no-one,
When I erase the light
From sight.
I hear them call,
They scream,
And only I answer
With intangible 
Listening.

I drink the echo of their pain.
I consume
Every detail that writhes,
Every vestige, every torment,
Every breathless sigh,
And turn them into the river
That only tears
Can drain.

Ayalal,
17, Sarenith, 4711

domingo, 23 de setembro de 2018

Pinta a noite com a essência dos sonhos


Pinta a noite com a essência dos sonhos 
E liberta-te no céu d’aguarela, 
Onde é teu o pincel e as tintas são 
Fragmentos de coração. 

*

Paint the night with the essence of dreams 
And free yourself in the sky of watercolor, 
Where the brush is yours and the inks are 
Fragments of heart.

Ayalal,
16.Sarenith.4711

terça-feira, 24 de julho de 2018

O sol nasceu álgido



O sol nasceu álgido.
São dedos defuntos
O seu raiar,
E o seu toque é o do morto
Que quer viver
Sem vivo estar.

*

The sun rose algid.
Its light is lifeless fingers,
And the touch is that of the dead
Who wants to live
Without being alive.


Hurad Duruvan

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Quem Sou?


Quem sou?
A Morte vestida de mim,
Em trajes de cerimónia;
Sou carne morta
E inspiração vazia
De peito aberto.

*

Who am I?
Death dressed in myself,
in formal attire;
I am dead flesh
and empty inspiration 
with an open chest.

Ayalal,
14.Sarenith.4711

sábado, 2 de junho de 2018

Espero o tempo que esperar


Espero o tempo que esperar,
Porém não espera o Tempo,
Pelo tempo que há a passar.

Ele passeia como quem corre
À pressa na corrida
Do que morre;

Mas não morre o findar,
Nem finda o término
Do que há a terminar.

*

I wait as long as I wait,
But Time does not wait,
For the time there is to pass.

It walks as one rushes
In the race of what dies;

But the end does not die,
Nor does the end arrive
Of what there is to finish.
Ayalal,
13.Sarenith.4711

quarta-feira, 4 de abril de 2018

O Passado retém a alma


O Passado retém a alma, 
Que o Futuro é incapaz de conquistar.
Com ela transcreve um Presente 
Que decai quebrado
E geme a mágoa,
Enquanto a torna veneno.

Mas que direito tem o Passado 
De navegar
Nas águas da memória 
Onde a quer afogar?
Que direito tem de ser rei 
Daquilo que não é seu?
Porque é minha a alma, 
Não sua. Dito eu
O que é Presente e o que será 
Futuro.

*

Past retains the soul,
That Future is unable to conquer.
With it It transcribes a Present
That decays, broken
And It moans the sorrow,
While it becomes poison.

But what right has Past
To navigate in the waters
Of memory
Where It wants to drown it?
What right does It has to be king
Of what is not His?
Because it’s mine, the soul,
Not His. I dictate
What is Present and what Future
Will be.

Ayalal,
10.Arodus.4711

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O que é "Ser"?


O que é “Ser”?
É ser e não ser,
É ter
O que de si parece
Sem ser e ser
O que não é
Ditado à fé
Do parecer.

Ayalal,
12.Sarenith.4711

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Quando o céu é feito de chuva


Quando o céu é feito de chuva,
Converso com as gotas que caem.

O seu delinear embebe as palavras
E derrama-as no mundo
Para serem eternas.

*

When the sky is made of rain,
I talk with the drops that fall.

Their outline imbues the words
And pours them into the world
To be eternal.

Ayalal,
11.Sarenith.4711