quarta-feira, 26 de junho de 2013

Dama, Senhora e Sol de Verão



Espiga e espraia a alma quente,
Madura é a fruta a colher,
Se é sopro morno é corrente
Que vaga em escuma de seu ser.

Arde no abraço e o que é olhar
Olvida o tempo, fértil de coração,
No ciclo colhe sempre o semear,
É Dama, Senhora e Sol de Verão.

Dedicado à Tiana,
com um beijinho da Vuo

domingo, 16 de junho de 2013

O Sonho Emparedado

A lâmina refulgia a cada corte, a cada trespasse, a cada impacto no Muro do Inferno. A pedra contorcia-se, gritava com milhares de bocas e espumava lava ardente dos golpes, como se fosse sangue. Os rostos incrustados no basalto que conseguiam escapar às espadeiradas atiravam-lhe impropérios e revelavam-lhe o interior da boca ígnea, de gengivas nuas.
Todos eles eram espíritos malignos, e aquela fora a sua sentença pós-morte: viverem emparedados pelo crime de terem eles mesmo emparedado fosse o que fosse, desde um humano do qual desejavam vingança, aos sonhos de uma criança. E ali fora emparedado um dos seus sonhos, junto com o criminoso. Mas que sonho era? Ele não fazia ideia, pois ao perdê-lo perdera também a recordação do mesmo.
Com um golpe brusco, a espada rasgou uma das faces que se desfez em pó. Onde estava a do ser criminoso? Como reconhecê-lo entre todos aqueles infinitos rostos gémeos de pecado?
De súbito, o coração de Amadis entrou em fibrilação, ameaçando saltar-lhe do peito. Um olhar vazio cruzara-se com o seu e, sem conseguir evitar, mergulhou nele de cabeça.
Caiu sob um céu cinzento, sem ter onde se agarrar, até os pés tocarem no chão. Aterrou com um movimento felino e ergueu uma cabeça. À sua frente, uma silhueta feminina caminhava ao longo de uma estrada que não tinha fim, num passo decidido. Mas afastava-se, cada vez mais e mais, de costas voltadas para si.
Obrigou-se a afastar a visão e rosnou de fúria ao investir contra o espírito. A espada enterrou-se na fronte do rosto demoníaco que o fitou, boquiaberto. E o sonho inundou-o, a recordação dela, do seu sorriso, dos seus resmoneios, enquanto alma se desvanecia.

Onde estaria Aline?

25 - Lâmina de Sangue

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Proíba-se o não de negação



Proíba-se o não de negação,
Aquele que corta o passo já coxo,
Rouba do optimismo o coração,
E remete a Esperança à cirurgia.