sábado, 21 de novembro de 2015

Verte-se a Lágrima


Verte-se a lágrima. É hipócrita,
Tingida de dor que é só lençol de linho escuro,
Sujo do que é sentir e não sentir, do fingir
Sem a percepção do acto dramático; e encena-se
Uma peça de vida, uma cena de morte.
O palco corrói-se no lamento
Que não o é, que não o foi…
Mas sê-lo-á? Quando a cortina arder
  
E o palco findar.


Musical Fête, Giovanni Pannini (1747)




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Há Tempo que não é Tempo



Há tempo que não é tempo,
Mas eternidade.
Eterna a espera contínua,
Longa, tão longa. O horizonte
É o tudo do infinito onde aguardas
O tempo que chega no nunca de si mesmo.
Chegará? Quiçá não.
No eterno longínquo do Tempo,
Será a infinda espera um tempo vão?


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Inspiro a Vida que s'esvai


©2013 Stephanie Law - Labyrinthine - Spring




Inspiro a vida que s’esvai, sangue,
Nos detritos que os braços do vento
Toma para si.

Num sussurro, ele suspira os gritos,
E o perfume do seu íntimo
É mescla de medo e dor.

Esse vento vem, esse vento vai.
No incorpóreo da memória
Sedimentam escombros d’eternidade.

Enterra-se e esqueces
O longo passado do que é História;
Para quê lembrar?

O tempo torna-se esquecimento,
Até o Tudo ser olvido
E o vento soprar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Voo e trespasso o Céu


Voo e trespasso o céu,
Enquanto o Sol se pinta d’encanto,
E a nuvem branca é sombra
Na campina do alto-mar.

Inspiro e inundo-me da maresia
Que saboreia a pele do marinheiro;
É vaga que prova os limites do mundo
Sem mesmo lhes tocar.

Voo entre os braços que se erguem,
Escuma e salpicos de corpo líquido.
E perco-me além-horizonte, só,
Na companhia do mar.