domingo, 31 de julho de 2016

Mergulha no céu e toma o ar


Mergulha no céu e toma o ar
Que das asas insufla os sentidos.
Nessa dança o vento é teu par,
Em cuja ária são envolvidos 
O riso puro que é do mundo
E seu pensar, leve e profundo,
Como a modéstia de voar.

Ayalal,
09.Rova.4699

sábado, 30 de julho de 2016

O segredo que guardo


O segredo que guardo
No coração
É a ouro e prata
Debruado.
De sua riqueza,
A chave retém-se
Em minha mão,
Que mantém o segredo
Fechado
Entre a promessa
E a solidão
De não ser partilhado.
Ayalal,
30.Arodus.4699

Não os sigas sem que te vejam


Não os sigas sem que te vejam,
Mas que vejam somente a ti,
Conquanto a visão do mundo
Seja ampla só por si.

Corre em seu encalço e chama-os,
Quiçá em silêncio, para os invocar,
Com palavras mudas que são desejo
De a todos eles abarcar.

E não esqueças, no incessante fugir,
Busca-os, quando Ela os esconder,
Porque são teus os sonhos fugidios
Que em tanto temem ser.

Pois quando os esqueceres,
Quando não mais seja intenção
O perseguir, tanto eles,
Como parte de ti, morrerão.

Ayalal,
04.Rova.4699

quarta-feira, 27 de julho de 2016

As estrelas fiam os mundos


De sua luz,
As estrelas fiam os mundos
De que se veste a existência.

Ayalal,
22.Arodus.4699

terça-feira, 26 de julho de 2016

As gotas de orvalho choram das folhas


As gotas de orvalho choram das folhas
Sentidas, e do abraço que os ramos esguios
Dão à brisa que passa.

São, no erguer da alva, a lágrima caída
Da floresta que jazia adormecida
E boceja ao despertar.

Ayalal,
14.Arodus.4699

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Noite tem em seu inato

Ophelia, Maria Spilsbury (1777-1823)

A Noite tem em seu inato
O encanto de donzela sem medo,
Que trilha o desconhecido, perdida
E de pés descalços.

O seu olhar é das estrelas
Que da imensidão perscrutam o Tudo
Da escuridão, que é o cabelo
Entrançado com o mundo.

A pele toca os detalhes, os dedos
Deslizam sobre o que não vê,
Vislumbrando de um horizonte
O não sabido pelo Dia.

E ouço-a, em sussurro, cantar, secreta
A melodia que avança, inevitável,
Até, por fim, a donzela se encontrar
No amanhecer, e desaparecer.







Ayalal,
19.Arodus.4699

domingo, 24 de julho de 2016

Quedo-me, exaurido da estrada


Quedo-me, exaurido da estrada,
E peço ao Velho Peregrino que passa
Indicação do caminho a seguir.

Em resposta, oferece-me histórias,
Porque na partilha de palavras
Há mais de mil estradas.

Ayalal,
07.Arodus.4699

sábado, 23 de julho de 2016

Não contes os dias que foram


Não contes os dias que foram,
Nem mesmo os que serão,
Porque, ao contá-los,
Perdes os dias que são.

Ayalal,
19.Erastus.4699

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Caminha sempre em frente


Caminha sempre em frente.
Que não te fiquem para trás
Os olhos, caídos.

Ayalal,
08.Erastus.4699

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Rosa

The Soul of the Rose, J. W. Waterhouse (1908)



Oh, como rouba de ti a beleza,
A rosa que se queda expectante
No corpo de sua mãe!

Toma, na fracção do mimetismo,
A suavidade do contraste
Que lhe adoça as pétalas,

E no perfume que torna ébrio
O coração, mergulha a sensatez
De ser flor por colher.







Ayalal,
02.Arodus.4699

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Hoje sonhei que não era eu


Hoje sonhei que não era eu,
Mas uma sombra incorpórea,
De passos dúbios e gestos
Amplos de tão vagos.

Projectado na parede, era mancha,
Qual líquen que da pedra corrói a pele,
E no chão sustinha o peso dos pés
Que, incontáveis, pisavam sem ver.

Deslizava, inseguro, estirando
A consciência sob a luz,
Para ser ínfimo e esconder-me
Onde era visível a qualquer um.

E buscava por ela,
Ela que continha a resposta,
Escondida nos meandros negros
De si – escuridão.

Porém, quando a vi, fugi.
Tomá-la seria desaparecer de mim.
E, enquanto a luz for o redor,
Serei existência.

Ayalal,
24.Erastus.4699

terça-feira, 19 de julho de 2016

Inexistência do Silêncio


Paro, atento no silêncio
E digo-vos o que escuto…

Escuto a sua inexistência,
Detalhada na multiplicidade;
O sussurro da corrente de ar, o roçagar
Do atrito do que não vejo.

Do longínquo chegam-me
Vestígios de palavras que se perdem
Na distância. E aves…
Como é belo o misto do seu cantar
E o do ramalhar das árvores!

Mas há mais, na ausência
Desse silêncio.
Há o murmúrio de ti e de mim,
O bater do coração, o fluxo
Do que anima o corpo,
Sons do mundo e sons de vida.

Quando houver só silêncio, a inexistência
Será minha.

Ayalal,
17.Erastus.4699

sábado, 16 de julho de 2016

Inspira o espaço


Inspira o espaço que é
Partícula imaginária do pensamento
Divino,
Permitindo que do teu ermo
Se preencha cada interstício filho
Do inóspito.

Ayalal,
06.Erastus.4699

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Doa a alma ao coração


Doa a alma ao coração,
Quando da razão
Restar o não pensar.

A sua escolha será
A do sentido onde recairá
A decisão.

Quantos dos sábios não sentem
Quando as razões mentem
Ao espírito,

E quando é dúbia a escolha
E não há lógica que suponha
O correcto?

Por isso, sê sábio no sentir,
Que o juízo que há-de vir
Tomará seu rumo.

Pondera o ponderado,
Porque no erro precipitado
Finda o sonho.
Ayalal,
12.Erastus.4699

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Pequena semente, brinca


Pequena semente, brinca,
De mão dada com a Vida,
Enquanto ela conta de si o detalhe
Da lágrima e do sorriso que são
A tua existência.

Ayalal,
27.Sarenith.4699

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Deslizando sobre o pergaminho


Deslizando sobre o pergaminho, pensativa,
A pena deixa reminiscências de ti,
No pormenor da caligrafia
Esguia e cuidada no floreado, leve
Ao toque suave do olhar.
Por vezes a linha treme, por vezes
A mão hesita.
A letra que encalça o intento,
Conquanto insegura, prossegue,
Até do aparo se esgotar a tinta
E o tinteiro ser somente receptáculo
Vazio, da pena que suspira.

Ayalal,
07.Erastus.4699

terça-feira, 12 de julho de 2016

Há um fim na infinidade do tempo


Há um fim na infinidade do tempo.

Quando o último expirar decai no limbo do "não mais",
E se esgota do corpo o movimento que o anima,
Pharasma estende o acolhimento de sua mão
Fria.

Que seja do invólucro o repouso, e da alma o julgamento
Do que o moveu.

Ayalal,
03.Erastus.4699

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Frágil e efémera


Frágil e efémera,
Um beijo colhe-te em si.

Guarda-te no peito,
E na eternidade da lembrança.


@2015 Stephanie Pui-mun Law
Ayalal,
01.Lamashan.4699

Com o esboço de um sorriso tímido


Com o esboço de um sorriso tímido,
Conquistas do céu os astros.
És senhor de seu brilho, conquanto brilhes mais,
Irmão das que pontilham a noite.
Em teu redor gravita a consciência do ouvinte
Que escuta o bardo, e do crente
Que no altar contempla de seu anjo encarnação.
És pequena utopia nas mãos do mundo,
Filho dos deuses.

Ayalal,
21.Sarenith.4699

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Há na simplicidade a paz da descomplicação


Há na simplicidade a paz da descomplicação.
Vê como das árvores pendentes as folhas repousam,
Sem pensares.
Delongam-se na brisa que é carícia,
No vento forte que as arranca e leva em si.
Livres e simples, correm o mundo.

Ayalal,
31.Desnus.4699

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Em busca do dia em diante


Durante mais do que um humano tem de vida,
Vivi cada dia em busca do dia em diante,
Sem o encontrar.
Ele fugia (e como corria!) na agilidade mutável
Que o Tempo lhe concedeu.
Cansava-se o corpo, da consciência desgastava-se
A vontade pela busca que nada buscava.

Então, na procura pelo tempo que não pára de passar,
Aportei no porto dos enigmas, e deixei
De o querer apanhar.
Não mais quis o amanhã, para ficar preso no hoje,
No minuto que passa sob o arco que o Tempo
Perdeu no decorrer de si mesmo.
E encontrei o Presente.

Ayalal,
14.Sarenith.4699

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A poesia tem um travo doce e amargo


A poesia tem um travo doce e amargo,
Que agrada ao degustar.
A sua dor é suave, o alento sereno, porém
É de gigante a tenacidade
De fazer sentir.
Palavra a palavra, corrói de acidez e incendeia
Da alma a Vontade.
É ordem desordeira de sensações em amálgama
Que, sequiosas, bebem os sentidos,
Saciando-os.

Ayalal,
11.Sarenith.4699

terça-feira, 5 de julho de 2016

O luar é de ti guardião

Eternity ©2016 Stephanie Law




O luar é de ti guardião, quando quedas
E mergulhas nas águas dos sonhos.
Defende-te com a ternura de um beijo morno
Que desembainha, cavaleiro
Do subconsciente,
E escuda-te no abraço que envolve os mundos
Da entidade em ti presente.



Ayalal,
10.Sarenith.4699

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Há, no olhar do transeunte, um véu corrido


Há, no olhar do transeunte, um véu corrido,
Baço,
De quem vive só para ouvir bater o coração,
Que bate parado.
Olha, como quem nada vê no detalhe do complexo
Que o toca,
E não há lágrima que magoe pela dor de outrem.
A mortalha envolve a alma que a cerziu
Num padrão de malhas indiferentes,
Ignorando o verme que, sob os pés carcomidos,
É reflexo seu.
O transeunte passa e tudo o resto passa com ele,
Mas fica,
Do lado de fora do olhar.


Ayalal,
05.Sarenith.4699

sexta-feira, 1 de julho de 2016

As correntes tomam-te as penas


As correntes tomam-te as penas.
Liberta-as e sê de ti mesmo.
Evade-te da gaiola da mente
E voa com as asas do vento,
Sendo ave em sonho real.

Ayalal,
25.Desnus.4699