domingo, 25 de outubro de 2009

Decaimento


Decay, by Sephiroths Heart

Decresço.
Do ínfimo ponto a que chamam alma
Sobram réstias de véus rasgados,
Antros molestados por térmitas
Da carne.

Floresço.
Que com pétalas murchas
Movo mundos mortos em dor,
Donde os gritos são cantos de musas
E Parcas.

Vivo.
Sabe a vida o que é viver
De crânio em mãos se a questão
Por saber é ser ou não ser,
Que não sou.

E morro.
Se não é a imortalidade que oiço,
Insanidade de mente caída
Esta que mendiga migalhas
Ao coração.

sábado, 24 de outubro de 2009

Agradecimento


Com este post quero agradecer ao Afonso pela honra de me ter premiado com este selo.
O seu blog é um local tocado por uma enorme sensibilidade, que muitas vezes não consigo incutir aos meus poemas. Os meus parabéns ao seu trabalho e aos seus sentimentos.

Beijinhos!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Deus das Alturas


God of Thunder, by Suirebit

Do Nunca era aquele que se perdeu
Lá em manhãs de gelo áureo.
Acerbo de paladar corpóreo,
No tinir álgido de pedra dura.
Sendo ele o que ficou tisnado
De fogo em frio, assim queimado,
Lá no Nunca das Alturas.

Que quem o via bem dizia
“Ai de nós, que se nos dissolve o pranto,
Do peito caído, de coração aberto”,
Conquanto se queda desta altura,
E demorada a queda é vontade
O voar plúmbeo da verdade
Viva se vã que das alturas o esconjura.

Mas ele não cai, é perene ao frio
E do vento irmão de comunhão sagrada.
É sabido assim deus do que foi,
Do Nunca que um dia marchou
Nas alturas do devaneio em vida,
Real ventura a que foi um dia
E que ao largo em si ancorou.

Então, aqui fica a lenda,
Dos que ascenderam e tombaram.
Fica, mas não se esvai,
Que o almejar é perpétuo querer
O de um dia esse deus despertar,
E ao seu povo dormente retornar,
Das alturas a que se elevou ao morrer.

Dedicado a'O Bar do Ossian

sábado, 10 de outubro de 2009

Coração do Mar

Escuta o marulhar fresco
Que te chama em tom de água.
Que é gélido o seu apelo,
De negro o soar contido.
É voz trémula de mágoa,
Esse grito rouco em gorgolejo...
Que és só tu e tu o seu desejo,
Esvanecido na lassidão.
De profundo em profundo,
Mais que profunda imensidão,
A daquele abismo íngreme
Para os confins do coração.

(Prín - Capítulo VII - O Mar do Interior)