quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Só assim irá Florir



Do correcto, o descontente
Revolve a terra.
Insinua que é demente
O dito que se quer escrever,
Insiste e grita, desmente
A verdade que rente
Desponta ao amanhecer.

A voz é tão alta que cega
Os ouvidos e ensurdece
A mente que se agrega,
Sem consciência, sem ser,
Néscia, tanto que renega
Apego ao que era
Opinar e saber.

E di-la daninha, a verdade,
Que daninha seja se persistir.
Que nomeie a raiz de profundidade,
E as folhas de perseverança.
O caule que persista à vontade
De vergar à sagacidade
De quem mata a esperança.

Só assim irá florir.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sorri

Pintura de Edward Robert Hughes

Sorri, antes que te caiam,
Uma a uma, as pérolas de marfim;
Esboça esgar, pinta nos lábios,
Sem carvão, sorriso para mim.

Livra-te da ironia, quero pois
Erguer singelo, não o decair;
Trejeito meigo, senão efémero,
Aquele que é teu sorrir.

Só, ele é candeia e luz, alumia,
Só, é brilho de tesouro, epifania,
De ser e não ser, estar e não estar.

Sorri, que é bússola de conceito
Esse tão teu trejeito,
Que me guia e quer tomar.





domingo, 7 de setembro de 2014

Ledo o sorriso que é Sol


Ledo o sorriso que é Sol,
Sob a sombra que o quer cegar,
Ledo o gesto que é flor
Ao vento agreste, tempestade,
Cujo intento é arrancar
Raiz, florir, sua vontade.

Ledo o toque que é sonho,
Sob o lento decair do Tempo,
Leda a palavra que aconchega
Ante a censura que a rasga,
Tão cruel, que é tormento,
E contudo não se apaga.

Leda a lágrima que é mar,
Sob as vagas do Mundo,
Leda porque é d'alento e mágoa,
Fruto que a vida deu,
Reflexo do que é fecundo
E do que faleceu.