quinta-feira, 29 de maio de 2008

Amor Desamado


Silêncio ressentido, olhar cruel,

Foi esse teu que lançaste.

Cego ódio rancoroso,

Dardo de fel belicoso

De rumo ao profundo olvidado,

Na negritude dos anais.

E singras em veneno vasculado

De letífica vontade fatal.

Embustes são os teus

De vacuoso amor sentido,

Esse que não sentes

E em que só vês o Mal.

sábado, 24 de maio de 2008

Conto Entristecido


Conto tristezas, essas da vida,
Que abolem auroras de alentos
E talham da sarada chaga
A sangrenta aberta ferida.

Conto, mas incontáveis,
Tremem corruptas nas mãos,
Sensíveis ao vil palpitar.
Das loucas mentes dos sãos.

Oh! Mundo este cruel,
Que morre vendo morrer!
É de humanos, estes sublimes
Que bebem quente o seu fel.

Que prazer é o deles,
E porque não o sinto eu?
Sinto álgida a raiva
Que afrontou Prometeu.

Chamo a esperança destemida!
Onde estás donzela minha?
Célere se aproxima o Condenado
E eu clamo pela vida!

Vem de Nascente com o Pai.
Vem, porque te imploro,
Traz Deuses e Titãs,
Traz a sanidade que recordo!

Relembra dor e guerra,
A dor e guerra que conto
Não do passado perdido
Mas do presente que se perde!

A honra nada é mais,
O que sobra da paz adoece.
A glória é agora vergonha,
Esta minha que padece.

Devo, mas não quero contar
Conto este pesaroso,
Que embala sem adormecer
E faz chorar o virtuoso.
"Pois nos confins não há virtude que salve
O desdito Fado vosso..."
*

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Clausura de Ave


Inocência de canto doce
Correste livre na alegria.
Correste, não corres já,
Negras asas te prendem
À liberdade que possuis
Outrora d'outro, agora tua,
Essa liberdade desentendida.
Oh! E adoeces nela, de asas quebradas,
Pobre ave destemida!
O teu canto soou tarde,
Não mais podes ser escutada
Nas garras ledas da vida.