domingo, 31 de janeiro de 2010

Ser poeta...

Ser poeta é saber cantar ao mundo o encanto do que se não vê,
É dar vida ao morrer e fazê-lo crescer em sorrisos de fadas,
Dançar ao ritmo da natura que se escreve e ao som das palavras,
É questionar o questionado e sabido, e dar-lhe um sentido
Diferente ao olhar e de erguida alma pendente.
Que o poeta é um cego que tudo vê, tão são de demente.
Um poeta é assim eterna gente.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Brisa de Gelo


Brindo à branda brisa que gela,
Levando o tom contido consigo.
Irmã essa do tom que folgo,
Somente daquele achar que vem vindo,
Sonho dado de frio em fogo,
Frio tão frio que incendeia a alma,
Rouba da triste o gélido, seu amigo
Ornado e fiel, que é dito consigo,
Sidéreo o espírito que canta baixinho,
Tom tão frio de aquecido,
Na sua brisa de gelo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Crepúsculo


Ten of Swords, by Puimun

Repousei, de respiração vagarosa
Caminhando semi-passos de prosa,
Enquanto os versos corriam de mãos dadas
Sem esperar a pausa do descanso,
Inspirando o folgo inexistente.

Escaparam-se do olhar.
Perderam-se no horizonte obscurecido
Do decair diurno, enquanto a estrela mãe
Murmurava a sua despedida.
Partiram com ela.

E então, o crepúsculo cobriu-me.
Tão ledo e sussurrado, uma fracção de tempo
Tomada à noite que se erguia.
E ergui-me eu, no súbito do obscurecer,
Pois a ele não o queria.

Senti o afagar daquele redor que no adormecer
Sonhava por acordar noutra vida, e sorri.
Quão belo era aquele passar que não se coibia
Da maravilha de o ser no seu escasso tempo,
Aquele tempo que seria meu.

E abarquei-o com um abraço.
Apertei-o de encontro ao peito que gelava,
E absorvi-o, aquele que não era noite nem dia.
Aquele que não era calor nem frio,
À brisa amena.

E sim, seria eternamente meu.
O meio-termo que dita o fim e o início,
Na sua intrínseca fusão.
Um dos corações do mundo,
Preso ao meu coração.

Encerro o olhar para adormecer com ele,
Mas eis que oiço um canto
Em línguas passadas e idiomas por gerar,
No berço do correr do tempo
Do qual nascera.

Um canto histérico e murmurado,
Um cantar de eterna e dolorida alegria
Que se martirizava em prantos
Da sua perpétua e leda agonia.
Que eles tinham regressado!

Aqueles fugidios calcorreantes do mundo,
Almas doces e amargas de antagónico pensar,
Retornaram à pátria deste mundo e curvaram-se,
As mãos estendidas ao crepúsculo,
Convidando-o a dançar.

Que agora o meu bem-amado seria deles,
Enquanto eles seriam meus. Ambos meus.
Os Versos e o Crepúsculo. Talvez Versos Crepusculares.
Abrigados dos que se diziam reis,
Mas que, no entanto, não o eram.

E, numa noite remota de um tempo futuro,
Partiria à conquista do Amanhecer.
Que o Dia e a Noite seriam meus, sem o serem,
E os versos cantariam tão mais alto!
Para que deles os deuses não se pudessem esquecer.