quinta-feira, 29 de julho de 2010

Palavras Mudas


Words, by... me

Suspiras o não sabido
Que tão bem sabes conhecer.
E nos lábios prendem-se as palavras
Que falam mudas aos teus ouvintes
Sequiosos de o saber.
Mas o que é dito não é dito,
Fala o espírito que não se escuta.
Que saber inato é o teu
Pintado em tom de inaudito,
Pintado e escrito em letras sem ver?
Somente um pensamento que desdito
Se esconde no não dizer.

(Capítulo XI do Prín,
substituindo "Os Abismos", que passa para o capítulo XII)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Necromancia (Acróstico)


Metamorphosis II, by Vladimir Kush

N
íveo, o cadente desaparecer que se consome
Ergue ao mundo o dito por dizer,
Clamando o nome que caiu.
Rumo ao Hades escurecido do profundo,
Orei por cada remar penado que ali me guiava.
Morta a Vida e viva a Morte que se escondia
Ao meu passar servil de olhar sadio
Nascido para a ver, desiludido para a chamar.
Conquanto o nome se esvaia no esquecimento,
Imortalizo-o, o da alma, e pinto-o no meu espírito.
A voz que clama é a minha, à qual há-de Ela abarcar.

(Dedicado ao meu querido necromante, o Leonardo)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Suspiro das Pétalas


.Wind, by masKade

O Luar que alumia o horizonte remoto,
Transcreve-se nas pétalas efémeras
Que um dia murcharam sob o teu olhar.

Cada pétala espelha-se num suspiro cantado,
De tom soprado à subtil brisa do vento,
Que foi um dia o respirar.

Um suspiro que se expirou
Foi o escutado provindo de tão bela flor
Nascida do Sol da madrugada.

O despontar do perdido que se adensa
Por cada desabrochar que vai sendo luz
E cegueira, à vista magoada.

Que não vês o sentir que baila serpenteante,
Coberto de veludos nesse prado florido
De espinhos que tacteias.

As agulhas floridas são de toque melífluo,
Ínfimas abelhas que de flor em flor passeiam,
E te recolhem o mel das veias.

E a tua semente é abandonada na terra,
Submergida na espera do Tempo,
Sem ver que destino é o seu traçado.

Cantará assim teu sangue ao Luar,
Lembrando os dias em que era Vida
Sem vida e faminta pelo Fado.

No embalo do resguardo da Noite,
Suspiros de pétalas cantadas
São hoje o esquecimento.

Pintada a negro sobre o que era cor
Soprou a voz das Eras desbotadas
E escutou-se o uivar ledo do vento.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dias Passados



Voltei os dias do avesso e sacudi-os.
Libertaram ledos espectros de temor
E almas quelatadas que da morte sofriam
Quanta da sua Fortuna, era a férrea dor,
A dos dias passados, a do desvario.

Voltei a sacudir, num ímpeto de raiva,
E tombou o coração do mundo,
Que não mais palpitava.
Escorreram as lágrimas já secas
E lânguidas de há muito não chorar.

Sacudi e resvalaram as mentiras do amar,
As tochas acesas que queimavam
Quando tocavam nas paredes dos dias.
Extingui-as, para não mais ver então
A pétrea luz dessa lassidão.

E, por fim, daquele somente sacudir,
Caíram-me os dias ao chão.
Os estilhaços extraíram entranhas de vida
E vivissecaram o tempo da terra ida,
No quebrar da eterna imensidão.

(sim, a foto feia fui eu que tirei!)