quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Grande Mostrengo



Ouçam-no clamar, dos confins,
Os tempos idos que agora são.
Ouçam e atentem, que o mostrengo
Clama baixo sussurro dúbio do mar.
Não grita como outrora falou,
Para a vós não assustar.

E o sussurro é engodo à presa,
Ouçam o Poeta, que vos avisou!
Que hoje os batentes do mar
Tremeram ao vento fraco da brisa,
Tremeram e quase caíram
Nos tormentos do afundar.

Ai, Pessoa, digo que a razão
Era tua, aquela, a da loucura.
E os mostrengos são eles
Os Grandes que nos vão matar
Esperanças que bracejam vãs
E que se estão a afogar.

Por isso remem, marinheiros,
Remem rumo à contra-maré.
Que por temor se esvai o monstro
Para o profundo do não voltar.
Remem, para pátria nossa e seu fulgor
Nos baixios secos não naufragar.

(Tema: Fernando Pessoa e a Crise do País
Para um concurso da FCUL)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pó da Memória



Canso-me de ouvir o pó
Falar o que do tempo ficou.
Canso-me e sopro-o e ele espalha-se,
Ponto por ponto, imutável,
Que sempre ali estará,
Persistente,
Que sempre o soprarei,
Até que vá.

Porém, não quer ele partir.
É coberta onde se aconchega
A lembrança sonolenta.
E sacudo-a,
E novamente se espalha
Por ali e acolá.
Olhar remoto que observa,
Para sempre perdurar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Parcas

Dos confins mais distantes,
Esticaram o braço e prenderam-te,
Por entre anéis e estrelas de negra
Noite que se avizinhava,
Tão vis pedantes!

As garras reflectiam o que do pensamento
Se esvaía em pútridas almas.
Que as albergam, corpos moles,
E as engolem e sorriem do sabor
Azedo de medo e doce
De sangue antigo.

Mas sacode-las e livra-te delas.
Não lhes fales que são velhos
Tormentos apagados.
Não as olhes se o olhar queres manter.
E não digas que o não disse,
Língua arguta e olhar pronto
O meu, que um dia lhes roubei.

domingo, 12 de abril de 2009

Palavras do Anjo


Deu-lhe um beijo.
Ele sorriu, que era anjo
E cantou baixinho.
E das doces palavras
Que o sussurro lhe entregou,
Provou uma a uma,
De gosto a mel
E morango e perfume,
De meandros algures sentidos
Vivos e demorados,
Donde a voz murmurava.

E adorou-as.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Mar Nómada



Nas velas lassas que se aquietaram

Nos tempestuosos braços da brisa,
O teu olhar extinguiu memórias
Que marulhavam ao som da maresia.

A âncora quebrou elos que a navegavam
Para não mais aportar, que o casco partiu.
A madeira crepitou à fogueira e aqueceu,
Tão queimada e negra quanto o céu.

Assustaste-te com o semblante
E olhar o seu que te fitava de esperança
Oculta no vencer e teu só escolher.
Mas (oh!) escolheste mal.

Que não te molhou a espuma
O sentido trocado e deitado ao largo.
O sussurro e o grito do mar foram vãos,
E vontade ao longo da costa quedada.

Augúrio esse que não mais partiu,
Preso aos rochedos da areia.
Morreu seco o sonho que ancorou
No cais velho. E o nómada perdeu.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Escolha de um Passo


A escolha corre, trémula,
Por entre dedos, para jusante,
Em salvo voo do correcto.
Longe, tão longe, que distante…
Um passo no escuro, um passo em aberto.
Chama fulva que se acende,
Fulgor rubro que se extingue.
E novo passo, o escolhido,
O que hesitas em dar.
Em frente, sempre em frente,
Distantes de constante.
Não o podes evitar.

sábado, 4 de abril de 2009

Pensamento

Diga-se o que se disser, escreva-se o que se escrever, o pensamento será o mesmo. O mesmo e aquele que te toca à valsa que bailas inebriado, controlado, sem razão… louco! Oh! Ele faz-te louco. Morde-te o coração, corrói-te que corre e extravasa margens acima do permitido. E cedes, mergulhas nele e nadas braçadas cada vez mais longas, dolorosas.

Não te afogas, que ele não quer.

Estende-te a mão e larga-te. Engana-te que de muito sabe do tudo e nada, sem rédeas, tão livre planando, dizendo adeus, para depois voltar sempre, para sempre partir e retornar à margem onde quedaste.

Nunca te deixará só.

E brinca e torna a brincar. E fere e cura. Trespassa, recorta, une e desune. Mas é teu. Pertence final, eterno, consciente ou não. Mão aberta que se fecha, sombra escondida que espreita. Sussurro e murmúrio. Grito. Passado, Presente e Futuro.

Para ti, ele é tudo e não é nada.

No fim, irrita-se. E volta a brincar. Remexe os sentimentos, baralha, mistura, labiríntifica, que te perdes. Rodas sobre ti em peão, tonto que és louco, olhar em ruína, que ele se esconde. Desesperas. Cedes e cais. E ele retorna, como se nada fosse, atracando ao teu lado e estendo-te a mão de criança, suja de tanto brincar. E tu aceitas.

Que, sem ele, nada és.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

I Yhaliel (A Mensagem)


Fian nimani i heare sa assanae lia.
Fian sen ladnar irsah ceri vir joernar
Elle ceveron si sandanorin.
Saê sandanor.
Nimani kermori ellir nios valnorês.
Uranien êr ceri der gilie in emosar sen argani,
Sirin Amenofan.

Clamo viva a realeza da essência tua.
Clamo à alma sadia que se entrança
Na bruma do esquecimento.
Não esqueças.
Viva estás nos seus meadros.
Escuta os que te chamam e retorna à luz,
Brisa Amena.


(Excerto de uma história. O nome da língua em que está escrito é Cleriamn, totalmente criada por mim.)