domingo, 17 de janeiro de 2016

O Cais dos Últimos Dias



Há olhares esguios que seguem a vida,
Pela beira do cais dos últimos dias.
O seu inspirar oscila na margem da existência,
Por vezes ido, pendendo demasiado para lá,
Para voltar num sopro do vento,
De regresso ao tão pouco, mas ainda muito,
Que ainda há, e aguarda expectante,
No lado de cá.

Os olhares turvam-se com o entrechocar
Da onda que, no repique que persiste,
O tenta tragar e apenas deixar
Memória daquele seu inspirar sentido no riso,
No pranto, no gesto efémero de acenar.
Quando as pálpebras fecham, no instante a seguir,
A onda levou o seu inspirar no entretanto
De um suspiro do partir.


No Cais do Tejo, Alfredo Keil (1881)