quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Com tuas lágrimas criaste um oceano


Com tuas lágrimas criaste um oceano
E um vazio em ti,
Tão negro quanto o mar mais fundo,
Tão denso que só a indiferença
Restou em teu corpo
Moribundo.

*

With your tears you created an ocean
And an emptiness in you
As black as the deepest sea,
So dense that only indifference
Remained
In your dying body.


Ayalal Duruvan

sábado, 19 de dezembro de 2020

Foge para não veres


Foge para não veres
O medo no olhar
Dos que fugir não podem mais;
Foge e esconde-te sob o véu
Do fingir que não se vê
A dor que é dos demais;
Foge e com isso sê
Não inocente, culpado e réu,
Que em tua fuga os matais.

*

Run away so you can't see
The fear in the eyes
Of those who can no longer flee;
Run away and hide under the veil
Of pretending you don’t see
The pain from the others;
Run away and with that be
Non-innocent, defendant and guilty
Because you kill them
In your escape.

Ayalal Duruvan

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A sinceridade é arma


A sinceridade é arma,
A qual mata e salva
Sonhos, ideais e vidas
Desentendidas.

Quando embainhada,
É trégua e ameaça velada,
A aguardar a mão
Que a cravará no coração.

*

Sincerity is a weapon
Which saves and kills
Misunderstood lives, dreams
And ideals.

When sheathed,
It is truce and a veiled threat,
Waiting for the hand
That will pierce it through the heart.

Ayalal Duruvan

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Perdoa-te


Perdoa-te,
Se te persegue o pensamento
Que a alma não permite
Serenar.

*

Forgive yourself
If it persecutes you, the thought
That your soul does not permit
To pacify.

Ayalal Duruvan

Habita em mim, escondida


Habita em mim, escondida,
A sombra do passado.
Subtil, ela volve o fado,
Estirando o fio da vida,
E com ele borda a teia,
Na qual prende e enleia
Cada passo dado,
Ao passo que há a dar,
Para que meu seja o tropeçar,
O tombo descuidado,
E o não avançar.

Ayalal Duruvan

sábado, 5 de dezembro de 2020

Corre e sê livre


Corre e sê livre,
Qual ave sem asas que voa
No céu da imaginação.
*

Run and be free,
As a wingless bird that flies
In the sky of imagination.

Ayalal Duruvan

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Recordo-me de recordar


Recordo-me de recordar
Teu suspiro mais profundo,
E as horas que não queria eu
Que pudessem passar,
Pudera o sonho eterno ser,
Pudera a memória não fenecer…
Porém o tempo inspira
E, a cada expiração,
Desvanece-se o que era
E o que não mais é recordação.

*

I recall remembering
Your deepest sigh,
The hours that I wish
Had not been able to pass,
Could the dream be eternal,
Could the memory not fade...
However time inspires
And, with each expiration,
Disappears what it was
And what is no longer
A remembrance.

Hurad Duruvan

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

É solene cada nota


É solene cada nota
Que entoa no coração,
Enquanto, na solidão,
O piano toca.

Sua cadência
Embebe-se da memória
Daqueles cuja história
É confidência,

E intima do sentir
A lágrima, o sorriso,
A revolta que, sem aviso,
Faz o espírito s’insurgir.

Quando o silêncio é conclusão
E o que resta a contar,
Há no expectante aguardar
A contida expiração,

Que expira
Deixando em nós somente
A sinfonia latente
De uma vida vivida. 

*

Is solemn each note
That sings in the heart,
While, in solitude,
The piano plays. 

Its cadence
Soaks itself in the memory
Of those whose history
Is confidence,

And intimate from the feeling
The tear, the smile,
The revolt that, unexpectedly,
Makes the spirit rise.

When silence is conclusion
And what remains to be told,
There is in the expectant waiting
The contained exhalation

That expires,
Leaving in us solely
The latent symphony
Of a lived life.

Hurad Duruvan

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Magoa-me a indecisão


Magoa-me a indecisão,
Qual farpa que rasga
A mais ínfima porção
De minha alma.

Ela perdura, infecção
Subtil que toma
Do acto a acção
De agir na hora. 

Persegue-me, sabendo 
Que minha coragem 
Vacila temendo 
Os erros dos que agem. 

Contudo, finjo e ajo.
Seja a fingida calma
O primeiro passo
Na cura de minha alma.

*

Indecision hurts me,
Like a sliver that tears
The tiniest portion
Of my soul.

It endures, a subtle infection
That takes from the act
The action of acting
In the moment. 

It persecutes me, knowing
That my courage falters
Fearing the mistakes
Of those who act.

Yet, I pretend and act.
Let the feigned calm be
The first step in the healing
Of my soul.

Ayalal Duruvan

domingo, 29 de novembro de 2020

É exacta a inexactidão


É exacta a inexactidão
Do que não compreendo,
Tão certa quanto a incerteza
Que habita o Tempo.

*

It is exact the inexactitude
Of what I do not understand,
As certain as the uncertainty
That inhabits Time.

Ayalal Duruvan

sábado, 28 de novembro de 2020

Nada de mim quer a morte


Nada de mim quer a morte
Que não a vida
Não mais minha.
Vendi-a
Pelo preço da indiferença,
A que habitava
Cada sustido pensar,
E afogava em si
Um sonho esquecido
E a inépcia da acção.

*

Death wants nothing more from me
Other than a life
That is no longer mine.
I sold it
For the price of indifference,
The one that inhabited
Each sustained thought,
And that drowned in itself
A forgotten dream
And the ineptitude of action.

Hurad Duruvan

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Teus ramos choram a amargura


Teus ramos choram a amargura
Dos dias que se vão,
Dos que eram,
Mas não mais são.

As lágrimas caídas
Cantam de si ao vento
Cada memória,
Cada momento.

E tocando o chão,
Expiram o sentido de ser,
Enraizando-se e dando à vida
Um novo renascer.

*

Your branches mourn the bitterness
Of days that are gone,
Those that were 
But are no more.

The fallen tears sing
To the wind,
Each memory, each moment,
Of the departed spring.

And touching the ground,
They expire the sense of being,
Taking root and giving life
A new meaning.

Ayalal Duruvan

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Moldo, em cada palavra dispersa

The NGC 6302 nebula (Butterfly Nebula) as seen by Hubble Space telescope


Moldo, em cada palavra dispersa,
O voo diáfano
Da borboleta.

*

I mold, in each scattered word,
The diaphanous flight
Of the butterfly.

Ayalal Duruvan

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Do Tempo nada escondo


Do Tempo nada escondo.
Não há segredo ou erro,
Sentimento ou grito por gritar;
Não há sorriso, trejeito rígido
Ou lágrima por chorar;
Não há falsa paciência,
Ou cadência do pensar;
Não há mentira… minto,
Porém o que sinto
Só o Tempo pode revelar.

*

I hide nothing from Time. 
There is no secret or mistake, 
Feeling or scream; 
There is no smile, rigid grin 
Or unshed tear; 
There is no false patience, 
Or a thinking cadence; 
There is no lie... I lie, 
But what I feel 
Only Time can reveal.

Ayalal Duruvan

domingo, 30 de agosto de 2020

Quando o infinito cessar


Quando o infinito cessar
E no céu o olhar
Das estrelas se desvanecer,
Seremos quimera
Que no tempo soube marcar
A inevitabilidade de viver.

*

When the infinite ceases
And in the sky
The gaze of the stars fades,
We will be a chimera
That in time knew how to mark
The inevitability of living.

Hurad Duruvan

domingo, 23 de agosto de 2020

Persegue-me


Persegue -me, 
Pelas mais negras vielas, 
A que outrora foi semente. 
No agora presente, 
De raiz profunda, 
A culpa corre no encalço 
De minha alma moribunda. 


It pursues me, 
Through the darkest alleys, 
The one that once was seed. 
In the present of today, 
With a deep root, 
Guilt runs on the trail 
Of my dying soul.

Ayalal Duruvan
4711

domingo, 2 de agosto de 2020

Estilhaça-se o sôfrego silêncio


Estilhaça-se o sôfrego silêncio
Num grito mudo.
Urdo
Um crónico sorriso
Que, entristecido,
Se esbate na solidão.

*

The breathless silence shatters
In a silent scream.
I scheme
A chronic smile
That, overcast,
Fades into solitude.

Ayalal Duruvan
01.Lamashan.4711

sexta-feira, 3 de julho de 2020

A morte dura um instante eterno


A morte dura um instante eterno
Que te afasta, passo a passo,
Pelo caminho que é incerto
E por um plano que é tão vasto.

Encontrar-te-ei nesse ermo
Que se agiganta na vastidão?
Alcançar-te-ei no deserto
E tomar-te-ei a mão?

A crença pela qual rezo
Treme, teme e vacila,
Na alma que é mar aberto,
E num coração que oscila.

Mas contra o peito aperto
A que sempre será divina:
A esperança no que não é certo
E que é certeza destemida.



Death lasts an eternal instant
That moves you away, step by step,
On the path that is uncertain,
In a plane that is so vast.

Will I find you in that wilderness
That looms large in the vastness?
Will I reach you in the desert
And take your hand?

The belief I pray for
Trembles, fears and falters,
In the soul that is open sea,
In a heart that wavers.

But against my chest I hold
What will always be divine:
Hope in what is not certain
And that is fearless certainty. 


Ayalal Duruvan,
01.Lamashan.4711

sábado, 18 de abril de 2020

Acreditas nas mentiras


Acreditas nas mentiras
Que te sussurra a ilusão?
Escuta-as, atento.
Elas estremecem no espelho
Que reflecte o mundo.
Quebra-o e trespassa-as
Com a piedade de ninguém.

*

Do you believe the lies
The illusion whispers?
Listen to them carefully.
They tremble in the mirror
That reflects your world.
Shatter it and pierce them
With no-one's mercy.


Hurad Duruvan

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Não sei o que penso saber


Não sei o que penso saber.
É incógnita e devaneio
O que aprendemos ser
Verdadeiro.

*

I don't know what I think I know.
It is unknown and a daydream
What we learnt to be
True.

Ayalal,
23.Rova.4711

domingo, 5 de abril de 2020

Tenho esta longínqua memória


Tenho esta longínqua memória
Que não cessará de existir,
De ti, uma trémula tocha
Na escuridão, a luzir.

Apagaram-te, mas serás eterna,
A alumiar meu coração,
E sentirei sempre teu embalar,
Teu abraço e o aperto de tua mão.

*

I have this distant memory
That won't cease to exist,
Of you, a trembling torch
Shining in the darkness.

They erased you, but you’ll be eternal,
Lighting my heart,
And I will always feel your lulling,
Your embrace and the grip of your hand.

Ayalal Duruvan
21.Rova.4711

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Os dedos da Vingança


São longos e traiçoeiros,
Os dedos da Vingança,
Tanto que, ligeiros,
S'estendem além do tempo
Aguardando a Esperança.

*

The fingers of Revenge
Are treacherous and long,
So much that they extend
Far beyond time
Waiting for Hope.


Ayalal Duruvan,
17.Rova4711

segunda-feira, 30 de março de 2020

Em teu olhar há uma ave


Em teu olhar há uma ave
Que voa muito além do mundo.
É doce, pura e um sonho
A espreitar ao longe.

*

In your eyes there is a bird
That flies far beyond the world.
It is sweet, pure and a dream
Peeking in the distance.

Ayalal Duruvan,
18.Rova.4711

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

There's nothing to see


There’s nothing to see, 
There’s no one, 
There’s no me. 
There’s just the ashes 
That come 
From the sacred light 
Of the Sun.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Há um novo vazio que me preenche


Há um novo vazio que me preenche, 
Onde habitou seu frio irmão. 
Morno e melancólico, tem em si 
A nostalgia do que ficou 
Como recordação.

*

There’s a new emptiness that fills me,
Where its cold brother inhabited.
Warm and melancholic, it has in itself
The nostalgia of what remained
As a memory.

Hurad Duruvan

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Ansiei ser o que desconhecia


Ansiei ser o que desconhecia,
No passado que rumava
Pelo enigma da vida;
Ansiei ser tanto que não sabia,
Tão mais que me perdi,
Alheio de mim.

*

I longed to be what was unknown,
In the past that wandered
Through the riddle of life;
I longed to be so much that I didn't know,
So much more that I got lost,
Unaware of myself.

Hurad Duruvan

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A perfeição


A perfeição
É uma impossibilidade tentada,
Um rasgo de ingenuidade e o sonho
Da mente iluminada.

*

Perfection
Is an attempted impossibility,
A ripple of naivety and the dream
Of the enlightened mind.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Como um suspiro


Como um suspiro
Com o despropósito de existir,
Acendeste o que nasceu
Sem luz;
Tocaste o cerne frio
Da clausura de um coração
E despertaste
Esta alma.

*

As a sigh
With the non-purpose of existing,
You lit what was born
With no light;
You touched the cold core
From the enclosure of a heart
And you awakened
This soul.

Hurad Duruvan