sábado, 24 de outubro de 2015

Entranha-se


Entranha-se
O bocejo de ser vivo.
Contemplo o viver,
Enfado-me de ser
Partícula
Ao olhar do mundo,
E suponho o irreal
Do sonho.


Listen to my Sweet Pipings, J. W. Waterhouse (1911)

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

No Ruído Intenso


Magoa-me
No íntimo da percepção
O ruído intenso.
Assim é silêncio
O estrépito de não te ouvir.
Gritas, sussurras, e é como se cantasses
Muda.

Porém, olho-te.
Sorris e é como se falasses
Com um trejeito ao mundo,
Tão alto, que enquanto
As tuas palavras são silêncio,
O teu silêncio fala,
Terno.


@2013 Stephanie Pui-Mun Law

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Não existe Aurora



Não existe aurora
Que adormeça ao nascer.

Se existir, cego será
Aquele que o possa ver,
E não verá;

Visão tomada pelo Ser,
Em cujo eterno poder
Se banha a faca de cegar
E o ocaso de perecer.


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Chora, Nuvem de Tempo


Chora, Nuvem de Tempo.
Há tinta nas lágrimas que são
Corpo e espírito e pensar,
Unguento de criação,
Na tela de pintar.

Vertidas no corpo vazio,
São negro decomposto,
Tons mil de Horizonte vasto,
São o suposto
E o supor nefasto.

Pintam sem pincel ou guia,
Incertas são certeza
Que é somente instinto,
Alento, senão tristeza,
Sentimentos. Sinto…

Sensações, que fui pintada,
Em aguarelas de chorar,
Corro pelo Horizonte,
Corro para a alcançar
E tocar a Fonte.

De existência padece o mundo,
Maleita onde a cor pintada
Se esvai, e o sentimento
Retorna pela estrada
À Nuvem de Tempo.

Persigo a lágrima, desespero!
E corro… corro pela tela,
Atrás de mim ele é tanto,
Vazio espreitando à janela
Que me consome o pranto!

Antes da derradeira perda,
Tomo-a de súbito num abraço.
Será minha lágrima contida,
Semente e rebento no vazio baço
De que se pinta a vida.