sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Quem...



Sôfrego, o inspirar expirou-se, caído,
Queda num irreal sem sentido.
E morreu.
Mas por quem?
Quem, quando na mentira, rouba e desfalca a vida
Vossa, nossa e de ninguém?
Quem e por quem se do egoísmo nasceu
Morto algures se aborto às águas onde se afogou,
Afogou e expirou,
Expirou e faleceu?

Mas porque não morreu?
Por quem voltou, alma penada
Se comeu e devorou nada aquele o da revolta,
Rebelde espada curvada,
Sabre e alfange de sangue seco
E arcaico arco de flecha empalada,
Que empalou virtudes em passados ditos
Distantes do inalcançável?

Mas quem o ordenou?
Quem, cruel, bicho vil,
Recorda faca no escuro e punhal nas trevas,
Recorda seu o passar incessante das Eras
E o recobre na vergonha dos Anais presentes,
Ricos tolos de dementes?

Os sons cessaram, do cantar a desvario,
Do perguntar quem a ninguém,
Que ao nada ninguém responde.
Sou dito de vazio,
Sou dito de perguntar a quem,
Os porquês a que ninguém responde.

Ignorância então a de quem fala, mente ou se cala?
Ignorância a de quem pergunta,
Ou ignorância a de quem ignora?
Oh! Ignorância a da alma que chora!

Trespassá-la-ei, que se findará,
Esse alguém de ninguém que não sabe por quem chorar.
E chorarei por ele que não o soube amar.
Que no fim o quem sou eu,
Pergunto às Eras passadas que avistei passarem em dor
Horizontes e Pátrias de desamor.

Passarem e fugirem. E pergunto, de quem?
Mas não me respondem as vozes de ninguém.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Palavra


Rasgou o vento e a valsa que bailava,

Palavra aquela, manchada a rubro. E riu.

Viva e vã de canto fúnebre,

Louca e sã com o seu vazio,

É arma doce, beleza áurea

E beijo amargo ao fel tardio.

E longe, tão longe, o murmúrio ecoa

Morto que, em si, decaiu.

Foi palavra negra de escarlate níveo,

Frescura álgida de desvario,

Sorriso e pranto, amor, se encanto,

Sangue onde morreu o tempo, ao frio.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A Vontade e a Razão



Vontades vagueiam vãs, serras minhas
E palmilham pontes de bruma que as alumiam.
Param e perscrutam terra essa intransponível,
Param e refutam-se, conflito só de único,
Condado que alcançam de fútil
Caminhar que as guia sem destino.

E continuam, tropeçam, caiem cansadas,
Trôpegas de desensaiadas ao mero cansaço da razão.
O lógico consome em carne viva pegadas pioneiras,
Desagrado que o ultrapassa e se evade,
Mas não primado em sorte de sozinho,
É alvo certo de concreto à fúria irracional da lógica.

Desfecho é este de desilusão. Inveja e luxúria.
Pois dá-se a mão à razão e ela devora o braço e o corpo,
Controla a alma e desfaz o coração cadente,
Que de perigoso a aponta como inimigo a abater.
É injusta maldade, esta, a da inimiga do Sentir,
Inimiga do Olhar e inimiga do Pensar.

Ah! Então erguei-vos, Vontades caídas, não desistis!
Caminhai de arma em punho e brasão ao peito,
Escudai-vos dela, animal matreiro, brusco monstro,
Escudai-vos e de cordeiro tornai-vos leão!
E mostrai-lhe que de razão nada tem, a assassina.
Mostrai que divina é a vossa vontade e vencereis.