Esborratei a parede com tinta-da-china que não escorreu e observei como as linhas se emaranhavam e recriavam a teia negra das suas entranhas. Com cuidado, juntei-lhe um pincel e ajudei-a na reunião de cada gota de sangue obscurecido pela essência. E pouco depois tinha-a, mais corpórea que o sonho, mais viva que o retrato da Morte. Carinhosamente estendi-lhe a mão que ela, muito tímida, segurou na sua frieza. Os veios de tinta uniram-se com os meus vasos sanguíneos, quebrando-os e imiscuindo-se num reconhecimento de alma recém-nascida. Estendi a outra mão, e puxei-a da parede que a prendia para que fosse livre da tela onde fora tão bruscamente criada. Trôpega, contactou com o chão, a nova pintura onde se movia, não compactada de encontro a ele, mas corpórea. Parecia simplesmente estupefacta, enquanto eu sorria, apontando-lhe uma mesa ao meu lado, onde reunira todas as cores do mundo, todas as essências roubadas, todas as vozes, todos os gritos, todos os prantos e todos os sorrisos. Tudo para ela. Então, não esperou e precipitou-se, mergulhando nas tintas de Vida, ganhando a sua, misturando-se com a base de negro original. Observei a felicidade de que se ungia, enquanto perdia a minha. Pelas mãos que a agarrara escorriam o sangue, a pele, os sentidos, o pensamento. E no meu último olhar consciente, ela era uma sombra livre. Agora, serei eu o seu ser servente, um vulto capturado na liberdade de outrem.
6 comentários:
Este ficaria mesmo bem n'O Bar... :)
Beijinhos e bom Ano!
Tens a certeza? Se achas, eu ponho por lá ^^
Abraços e Bom Ano!
Serva da criação liberta...
Liberta da escravidão sombria....
Adorei ^^
Blood Kisses
Obrigada ^^
Beijinhos e Bom Ano!
Gosto, como sempre. :)
Obrigada, minha coisa fofa ^^
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