O canto das aves imiscuía-se no raiar do Sol e eu, sentada à beira do precipício, observava como o céu se matizava com o passar dos minutos. Era uma visão digna dos deuses.
– Em que pensas?
– Não tenho a certeza. Acho que penso em nada – respondi, cruzando as pernas. – Penso em nada para poder sentir tudo. Faz sentido?
Ao meu lado, a bela jovem abanou a cabeça. Os seus cabelos eram de puro ouro, revoltos e reluzentes. O rosto revelava-se uma mescla estranha de expressões que se harmonizavam – parecia simultaneamente triste e alegre. Mas, para mim, isso também não fazia sentido.
– Então, diz-me o que pensas. – Pedi, com um sorriso curioso.
Ela hesitou um pouco, levando um dedo ao queixo enquanto meditava.
– Penso que não penso. Penso que pensar destrói, penso que te estou a destruir ao pensar, por isso não vou pensar mais – respondeu, com um sorriso demasiado feliz para se coadunar com as suas palavras. – Se pensar demasiado, a vida morrerá nesse pensar.
Fiz uma careta de desgosto. As reflexões dela criavam-me nós na mente, e depois tinha de passar todo o dia a tentar desfazê-los. Era sempre assim.
– Mas, se não pensares de todo, a vida não chega a nascer sequer. – Notei, perguntando-me o que iria ela responder àquilo.
Vi-a ficar novamente pensativa. Quanto mais pensava, mais os cabelos cresciam, alargando-se pela superfície em seu redor, mergulhando no penhasco, sem medo. Quando senti que uma madeixa me tocou a mão, estremeci por dentro, sofrendo a sua queimadura na pele e na alma.
– Porque me fazes perguntas tão difíceis? Já disse que não quero pensar. Estou a magoar-te. – Concluiu, sem deixar de sorrir, mas ainda assim com tristeza no olhar.
Encolhi os ombros. Não era nada de novo, só significava que estava na minha hora de recolher, que precisava de me afastar. Mas só depois de sentir um pouco mais daquela dor. Queria que ela pensasse. Queria uma resposta. Insistiria até à eternidade se fosse necessário.
– Não faz mal. Continua a pensar. – Pedi simplesmente, observando-a. Mas até olhar para ela já me magoava.
E ela pensou, pensou até os seus cabelos se perderem no horizonte, pensou até eu sentir o corpo tremer. Quando dei conta que já não aguentaria mais aquele tormento, fechei os olhos.
– Volto amanhã e esperar-te-ei aqui, à mesma hora. Não faltes e traz-me a tua resposta – volvi, deixando-me cair do penhasco com um mero impulso, como se se tratasse da brisa do vento. – Não faltes, Madrugada.
Senti o seu olhar, até me perder de vista na escuridão daquele abismo.
– Até amanhã, Noite – chegaram as suas palavras até mim, antes de me sentir a adormecer. Ela já pensara o suficiente para que a vida nascesse e seguisse o seu trilho sinuoso.
– Em que pensas?
– Não tenho a certeza. Acho que penso em nada – respondi, cruzando as pernas. – Penso em nada para poder sentir tudo. Faz sentido?
Ao meu lado, a bela jovem abanou a cabeça. Os seus cabelos eram de puro ouro, revoltos e reluzentes. O rosto revelava-se uma mescla estranha de expressões que se harmonizavam – parecia simultaneamente triste e alegre. Mas, para mim, isso também não fazia sentido.
– Então, diz-me o que pensas. – Pedi, com um sorriso curioso.
Ela hesitou um pouco, levando um dedo ao queixo enquanto meditava.
– Penso que não penso. Penso que pensar destrói, penso que te estou a destruir ao pensar, por isso não vou pensar mais – respondeu, com um sorriso demasiado feliz para se coadunar com as suas palavras. – Se pensar demasiado, a vida morrerá nesse pensar.
Fiz uma careta de desgosto. As reflexões dela criavam-me nós na mente, e depois tinha de passar todo o dia a tentar desfazê-los. Era sempre assim.
– Mas, se não pensares de todo, a vida não chega a nascer sequer. – Notei, perguntando-me o que iria ela responder àquilo.
Vi-a ficar novamente pensativa. Quanto mais pensava, mais os cabelos cresciam, alargando-se pela superfície em seu redor, mergulhando no penhasco, sem medo. Quando senti que uma madeixa me tocou a mão, estremeci por dentro, sofrendo a sua queimadura na pele e na alma.
– Porque me fazes perguntas tão difíceis? Já disse que não quero pensar. Estou a magoar-te. – Concluiu, sem deixar de sorrir, mas ainda assim com tristeza no olhar.
Encolhi os ombros. Não era nada de novo, só significava que estava na minha hora de recolher, que precisava de me afastar. Mas só depois de sentir um pouco mais daquela dor. Queria que ela pensasse. Queria uma resposta. Insistiria até à eternidade se fosse necessário.
– Não faz mal. Continua a pensar. – Pedi simplesmente, observando-a. Mas até olhar para ela já me magoava.
E ela pensou, pensou até os seus cabelos se perderem no horizonte, pensou até eu sentir o corpo tremer. Quando dei conta que já não aguentaria mais aquele tormento, fechei os olhos.
– Volto amanhã e esperar-te-ei aqui, à mesma hora. Não faltes e traz-me a tua resposta – volvi, deixando-me cair do penhasco com um mero impulso, como se se tratasse da brisa do vento. – Não faltes, Madrugada.
Senti o seu olhar, até me perder de vista na escuridão daquele abismo.
– Até amanhã, Noite – chegaram as suas palavras até mim, antes de me sentir a adormecer. Ela já pensara o suficiente para que a vida nascesse e seguisse o seu trilho sinuoso.
15 - Triste e Leda Madrugada
2 comentários:
Tão bonito. Uma das tuas coisas que mais gostei de ler.
(Yay, um comentário! *Faz festa*)
Obrigada, Nonó ^^
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