FIM
domingo, 30 de março de 2008
Lua
FIM
quarta-feira, 26 de março de 2008
Silêncio
Clamava a minha voz tons raquíticos de dor,
Gritava ao silêncio que em redor era tudo.
“Ó silêncio, silêncio! Como és vasto e intragável!”
Contudo, nada ele me dizia, de nada me alimentava.
Oh! Nada de mim ele queria, nada tinha eu para oferecer.
Tinha silêncio, e isso não queria ele mais,
Tinha já a essência que era dele, tinha-me.
Só, e como ele me acompanhava…
Mendigava-lhe eu sussurros, mas ele dava-mos mudos!
Maldito fosse! Maldito que o trespasso com inglórias palavras.
Que sangre as letras escondidas que não são suas!
Arrancar-lhe-ei do peito o coração vil que não bate e…
E…? O que farei com ele?
Que martírio é este que me faz mentir a mim própria?
Amo-o. Oh sim, é verdade. E amá-lo-ei.
Rejeito-o por quere-lo, odeio-o por não o ter.
É seu o silêncio e eu nada tenho, nada sou.
Recorta-me o estilhaço que detenho por não ter o seu amor.
Esconder-me-ei nas brumas que me acolhem.
Ficarei junto à solidão sem palavras.
Dar-lhe-ei as minhas já que não as queres tu, ó silêncio da vida
Que por me pertencer é com desprezível ódio minha.
Equilíbrio
Em relances de tristeza.
Reconhece-las? Recordas-te delas?
Sentes que sim e dizes que não
Num arrependimento cobarde,
Porque és parte delas;
Duas almas que numa junção
Intrinsecamente profunda,
Formam uma mais pura que o Céu,
Como o éter que vagueia por aí,
Que te corre nas veias
E flúi numa fonte divina.
Fragmentos completos
Que não consegues unir,
Uma harmonia que pensas
Não conseguir alcançar.
Mais confusão e encontras-te perdido.
Pensas e (re)voltas a pensar
Naquele pensamento que te desnorteia,
Sem saberes que as pontas
Estão perto, mas longe
De um olhar que engana,
Um olhar que faz questão
De numa cruel tortura te manter.
Situação estranha é esta,
Mas o que não é estranho?
Sentir, amar?
Sorrir, chorar?
Nada podes fazer para mudar este dilema.
É um caos em equilíbrio contigo,
Que controlas sem saber,
Numa fé em algo que não compreendes,
Uma compreensível estranheza,
Que faz parte de ti, da tua alma,
Das lágrimas que choram
Em relances de tristeza,
Ou quem sabe, talvez de alegria.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Serpente
Oh! Mas que farei eu nas tuas mandíbulas presa? Como fugirei dessa tua boca assassina que me espera?
O veneno verteste em mim qual cianeto no Nilo que é teu. Eu sou esse rio, fui eu que morri nos fortes braços de Prometeu. Tenho o seu fogo, tinha a chama da vida que gentil roubaste. Que tenho então agora, pergunto-te, ó Deusa bífida que falas palavras de bondade incandescente? Não me respondas. Sei que mentirás, pois tu própria és uma mentira. Vai-te demónio, não és o anjo caído que almejo, não és a verdade do desespero. Nada és. Vai-te serpente.
terça-feira, 18 de março de 2008
Seres Maléficos
E como amplo é esse sorriso da mais pura e sombria alegria! Como se repercutem as sagazes e malditas gargalhadas por sinfónicos Infernos seus!
Mas as destroçadas almas penadas, essas são simples palavras que em verso colidem. Os ossos lacrimosos são bolachas recheadas que choramingam sob as mandíbulas que as devoram num sangrento batido de morango. E os pálidos cabelos de santos cruéis tormentos imiscuam-se nas suas garras, na delícia que delira por cogumelos, relíquias, artefactos, no seu eterno esparguete, mergulhados no jubiloso lago de pureza natalícia que diabólicas desvanecem.
Oh! Cérbero reinará sob o seu comando!
segunda-feira, 17 de março de 2008
Riso Final
Era o tudo, nada mais que isso,
O reflexo de infléxiveis luxúrias.
Soava alto em tom sumido,
Cantava novas no tom dos Deuses
Que do povo é inimigo.
E tão alto esse eco s’erguia!
Cantava guerras, comida sem pobres.
E como ria dos pobres sem comida.
Gargalhadas mil de egos vazios,
Viu morrer desgraçados e tenros
Aqueles que eram reais sorrisos.
Inocentes descairam em seus braços.
Com contente esgar insano
Riu sadio dos seus fados.
Oh! Impropério que clama cego!
Mas que acto era aquele
De demónio eco?
Não há anjo que se repugne
Da imoral bestialidade
De pompa e passeio impune?
Mas não satisfez a Vida, o imortal.
Não lhe agradou o incómodo,
Ou mesmo o desdito animal.
O que para sempre era vasto acabou.
Pôs-lhe a Bem Aparecida um fim,
E de tristeza (a) alegria apropriou.
Lenda, talvez realizado mito.
Nos braços que não o susteve
Riu do eterno ao longinquo infinito.
Não mais pode rir, pois riu em vão.
De chacota armada aos outros
Gastou pobre o vil coração.
sábado, 15 de março de 2008
sexta-feira, 14 de março de 2008
Sonhos
"Imploro-te repouso de plena e aflitiva insanidade, leva-me para esses confins eternos. Sonhar-vos-ei sonhando, meus sonhos sonhados."
quarta-feira, 12 de março de 2008
Antigo Casarão
Pilar que acende
A vela apagada
Em chama acordada.
Deambula fantasma
Em minha, tua alma,
Dir-te-ei “amado”,
Dir-me-ás “recordado”!
Pois o és, sendo eu,
O que tens era meu…
Eclipsadas memórias…
Oh! Conto-te histórias!
Entra, vê o visto,
Lê o sitio onde existo,
O corpo, a respiração,
Lê os sinais do coração!
Vai, vai comigo,
Deixa-me aqui contigo,
És a parte desapartada,
Sou a peça encontrada.
Tudo o que o vento levou
Só de mim ficou
A recordação, a lembrança,
A lágrima que entrança
Pensamentos, sentimentos,
Mais que tormentos!
Ficaste tu melancólico,
Fiquei eu diabólico.
E não te esqueças mortal
Tens de vendaval
A brisa que ficou
E que nada levou.
Ou seja, tens o Ser,
Aquele que, no morrer,
Deixou em ti
O pouco puro de mim.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Ameias do Coração
Divinas, rasgadas.
São olhos marinhos espelhados
Que abraço, sentindo o estilhaço
Quebrado em mim.
Findas, passadas.
São carinhos desonrados.
Espreito-as, ameias minhas,
De sentido algum, nenhum,
Deusas do destino caídas.
E respiro a vida que se esvai
Do teu calor sem sabor,
O encoberto do mistério que é teu.
Vontades são mil que desleixo,
Recusadas por mim, enfadadas
No espelho dos olhos que não vês,
De almas que em mim aguardam.
Almas essas devastadas,
Almas essas reprimidas.
Esperam que as aguardo
Esperam, infinitamente esperarão.
Não respiro já a vida tua.
As almas são agora minhas.
Espreitam das ameias enclausuradas
Dos contestados confins do coração.
sábado, 1 de março de 2008
Erros da Alma
Tendes a pensar que sim
Num óbvio não anunciado
Aos brandos ares tempestuosos
De um precipício assolado.
O que é não é,
E se não foi, não será.
Acolhido entre certo e errado…
É no errado que errarás.
Pois vem do cinza esbranquiçado
Esse descolorido engano crente
Num final preto acinzentado
De um mal-estar doente.
Doente de desafogo despropositado,
Marcado a fogo chamejante.
Num espírito desordenado
É alma alada delirante!
A nuvem negra que vazia
Apela um inexistente fundamento,
Mais que um impuro pedido,
Um inclemente lamento.
Fugido do céu nocturno,
Esquecido da brisa do canto…
É um erro profano,
Um erro de santo.
Porque dizes que é sem ser,
Porque afirmas verdade a mentira,
Porque julgas sem perceber,
Porque ouves vingativo essa ira…
Porque o coração murmura mudo,
Vendado pelo engano;
Porque simplesmente cego
És vão e desiludido insano.