sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sempre que o Sol fugir, chama por ele


Sempre que o Sol fugir, chama por ele,
Chama até a garganta arder e ser cinzas,
No tom carvão de voz daquele
A quem roubaram o horizonte.

Chama e canta hoje que amanhã
A voz finou a nota do Sol
E engoliu o tom.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dá-me o Sonho do Mar





Dá-me o sonho do mar,
Aquele que embalam as ondas;
Dá-me o desejo de ser e não ser
Sal e areia e concha e reter
O sentido do que é uno,
Escuma revolta do sereno fundo;
Dá-me o toque do desaguo,
E a ebulição do marulhar;
Que se não for para dar,
Donde sopra a sereia sua canção,
Do rochedo íngreme do marejar,
Serei tempestade e aluvião,
E roubarei para mim o mar.

Somos o Ar, somos o Sangue


Somos o ar, somos o sangue,
Somos o corpo exangue
Que quando te respira
Inspira-te da alma a ira.

Suor sem água, soro
Que te alimenta, ó morto,
Somos a carne minada,
Come o verme que come nada.

E não és carne nem corpo,
Não és cartilagem nem osso,
Sem semente, vagem vazia,
És a miragem de um dia.


terça-feira, 23 de julho de 2013

As Rimas Roem a Corda


As rimas roem a corda,
Roem por roer o ruminar do fio,
Roedores de luz e de pavio,
Roem, engolem a cera d'outrora.

Restolha a noite, falta a luz,
Falta de cerne sem ser cerzido,
Falta do guia em vela vestido;
Vou, que já não me conduz.

Roeu, roeu, a rima comeu
O sinal do sim, não, talvez não,
Não!, talvez seja um senão
Que se perdeu, quiçá não sou eu.


sábado, 6 de julho de 2013

Rompem-se os fios

Rompem-se os fios que lhes prendem
Pulsos partidos por coser,
Rompem-se e desaguam do céu,
Rio de pedra a pedra, dilúvio d’escorrer.

Unem, ferem, fendem-se d’ablação
De ser unido e não ser,
Que é a fúria que as leva contidas
E apartadas no chover.

Pois caem donde o fogo caiu,
Queimam d’álgido o que é viver,
E degolam, degolam todo o tudo,
Tomam de si o perecer.

E fluem.


26 - Fúria