Frio é o que me perpassa em mil flechas simultâneas, neste preciso mas indeciso momento. Nada sinto, para além deste respirar desesperado, que incendeia vapores que se escapam inevitavelmente dos meus lábios semiabertos. É a energia vital que se esvai, pois quimicamente, nada é o frio e nada é o calor. Simplesmente uma transferência de energia. E a falta de energia que existe no ambiente, suga a minha sem qualquer autorização, devora-me sem consideração, cruel e sem compaixão. Há muito que deixei de saber o que é o movimentar, os meus dedos são pura pedra sem vida, arroxeados, de sangue coagulado que se desleixou da sua função.
É-me impossível erguer deste glaciar onde me encerraram comigo própria e com outros que não consigo já distinguir. Todos eles roxos ou azuis. Que estranha cor para definir um humano, nunca antes me fora permitido ver tal, mas agora que o vejo, os meus olhos cor de gelo encerram-se para não mais os ver.
O cansaço toma, finalmente, conta de mim, enquanto os meus dentes terminam um batimento marcado, um contra o outro. Aquele calor que o meu corpo cedia ao ambiente que me avizinhava, retardava-me o metabolismo, até que este, por fim, parasse. Retirava-me o meu, e só meu, calor e deixava-me fria, tão fria… e sem vida.
[Dedicado à primeira lei da termodinâmica xD]
5 comentários:
Uma termodinâmica poeticamente descrita......
Espectacular, adorei... :)
OO, nunca pensei que a termodinâmica nos pudesse matar. Estamos sempre a aprender. E já agora, num glaciar, com pessoas azuis, eles devam era estar uns em cima dos outros,para se aquecerem. nada de segundos significado.
O texto está algo "explicito" por assim dizer. Retrata de uma forma algo ampliada, no entanto fiel, aquilo que sinto todas as manhãs ao acordar e sair debaixo dos lençóis, quando o frio entra em mim sem autorização.
Blood Tears:
Muito obrigada pelo cometário ^^
Beijinhos!
Gabrielis:
Ah pois, este é o meu conselho para ti, Zézinho xD
Porque raios haveriam eles de estar uns em cima dos outros? O que tu queres sei eu... *cof cof*
Ficas roxo quando te levantas de manhã? OO Oh! Pelos meus deusesinhos e pelas minhas fadinhas e os meus dragõezinhos... vai ao médico, rapaz! =P
Mas obrigada pelo comentário ^^
Um beijinho grande!
Leto of the Crows,
Um belo texto, da sabedoria implícita para reconhecer o quanto há de poético na Natureza e nas suas leis, e ser capaz de gerar essa poesia na própria escrita.
Como disse um grande Cavaleiro...
""O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso"
Sir Álvaro de Campos.
Beijo,
Gotik Raal
"O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso"
Sim, é totalmente verdade (não que eu considere o binómio de Newton belo, assim como com certeza nem todos dirão que a Vénus de Milo é bela), é essa a essência da questão ^^
Muito obrigada pelo comentário, Gotik Raal.
Beijinhos!
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