terça-feira, 18 de novembro de 2008

Questões ao Vazio



«Que brilho é esse em tua face, que desliza doce?»
Sal é ele e não doce,
É amargo de salgado,
É cadente e inacabado.
Rebelde ribeiro que se amansa
Na secura de um dia quente.

«E porque seca ele, se decai em pureza?»
Porque o abandonou a certeza.
Falta não mais faz .
Desprezo o que de impuro perfaz
Lágrimas minhas que se esvaem
No oculto da alma.

«Desdita criatura, que dizes de cruel sobre ti?»
Sobre mim? Não existe tal aqui.
Vazio, sim, eu sou o Vazio!
Incomensurável esse teu desvario,
Engano imperdoável, indigno,
Confusão em que te diluis.

«Sois louco por tal clamar...»
Não, não sou, louco és tu por amar,
Fúteis palavras, doces encantos.
E depois desfazes-te em prantos,
Bates portas, fechas janelas
E prendes-te na liberdade.

«Que mentiras vis me atiras?!»
Mentiras? Vê antes as que crias!
Eu sou o Nada, não as crio,
E sou o tudo desse teu desvario.
Abraço-te, mas não compreendes,
E foges, louco, de mim.

2 comentários:

Gotik Raal disse...

Leto of the Crows,

Gostei do ritmo, da indignação, do tom vivo das palavras - a atirar a imaginação para os antigos palcos de teatro de Shakespeare :)

Trabalha a tua arte, Leto. É sempre bom lêr o que escreves.

Um beijo,
Gotik Raal

DarkViolet disse...

A doçura pura é cruel na sua loucura, atira-se ao mar para ela navegar :)