Inconscientemente, peguei na minha velha caneta de tinta permanente azul, enquanto fitava um ainda mais velho caderno de páginas amareladas que encontrara no sótão da minha avó. As folhas estavam já carcomidas pelo tempo, apesar de desconfiar que eram uns bichinhos rastejantes que por lá havia que davam um empurrãozinho bastante forte ao apetite voraz do dito. Mas isso não passava de um pormenor que, de momento, não me era chamativo. Algo mais se remexia inquietamente na mente, picando-me sem compaixão e levando-me até à frente daquele caderno fútil, aos olhos dos vulgares mortais.
Levemente, bati com a caneta na têmpora direita, organizando palavras que mais tarde poderiam formar frases. Porém, tudo não passava de uma possibilidade. Revirei os olhos, fitando os cantos da sala onde me encontrava, mas ela não me inspirava, demasiado branca para poder acalentar a paz que era devida à cor. Por que não um sorriso? Sim, um sorriso! Era isso mesmo que queria que aquele papel ostentasse. Não um sorriso fingido, de onde não se distingue a verdade da mentira, mas um sorriso construído em palavras, um sorriso que ninguém poderia revogar ou contestar, um sorriso puro. Era esse o sorriso que tanto almejava.
Pousei a ponta metalizada da caneta sobre o papel, deixando que uma pinta se estriasse em curvas e contracurvas, por um diâmetro reduzido, antes de iniciar uma escrita rápida e floreada. As letras sucediam-se, palavra a palavra, espelhando aquilo que o meu espírito encantado engendrava, organizava e tentava planificar. A página preencheu-se, quase por magia, de seguida a folha e, por fim, todo o caderno, naquela letra miudinha e esguia de quem escreve direito por linhas tortas. Eu sabia o que queria, e era aquilo que estava ali, descrito em ínfimos pormenores.
Contudo, levei a caneta aos lábios e mordisquei-a, algo decepcionada com a verdade incondicional do que escrevera. Não passava aquilo de um mero e esmerado rascunho, elaborado num minuto eterno. Pois o que eu queria era a Realidade. Desejava um espelho em imagem das palavras. Alguém deveria sentir aquilo, alguém deveria possuir aquele sorriso que de inocência renascia do mais profundo e obscuro ser. Mas quem poderia ser?
Soltei um suspiro cansado, pousando a caneta e fechando o caderno com algum lamento. Da capa, sorria-me a fotografia de uma criança. Talvez tivesse sido aquela a minha inspiração espontânea e de que nem dera conta. Mas, inspiração ou não, nada me fazia crer que aquele fosse um sorriso verdadeiro. Mas as minhas palavras sim, essas eram sinceras, não obstante de serem um esboço do que poderia vir a ser um sorriso.
Talvez uma imagem valha mais que mil palavras mas, de momento, só estas palavras me sorriem.
Levemente, bati com a caneta na têmpora direita, organizando palavras que mais tarde poderiam formar frases. Porém, tudo não passava de uma possibilidade. Revirei os olhos, fitando os cantos da sala onde me encontrava, mas ela não me inspirava, demasiado branca para poder acalentar a paz que era devida à cor. Por que não um sorriso? Sim, um sorriso! Era isso mesmo que queria que aquele papel ostentasse. Não um sorriso fingido, de onde não se distingue a verdade da mentira, mas um sorriso construído em palavras, um sorriso que ninguém poderia revogar ou contestar, um sorriso puro. Era esse o sorriso que tanto almejava.
Pousei a ponta metalizada da caneta sobre o papel, deixando que uma pinta se estriasse em curvas e contracurvas, por um diâmetro reduzido, antes de iniciar uma escrita rápida e floreada. As letras sucediam-se, palavra a palavra, espelhando aquilo que o meu espírito encantado engendrava, organizava e tentava planificar. A página preencheu-se, quase por magia, de seguida a folha e, por fim, todo o caderno, naquela letra miudinha e esguia de quem escreve direito por linhas tortas. Eu sabia o que queria, e era aquilo que estava ali, descrito em ínfimos pormenores.
Contudo, levei a caneta aos lábios e mordisquei-a, algo decepcionada com a verdade incondicional do que escrevera. Não passava aquilo de um mero e esmerado rascunho, elaborado num minuto eterno. Pois o que eu queria era a Realidade. Desejava um espelho em imagem das palavras. Alguém deveria sentir aquilo, alguém deveria possuir aquele sorriso que de inocência renascia do mais profundo e obscuro ser. Mas quem poderia ser?
Soltei um suspiro cansado, pousando a caneta e fechando o caderno com algum lamento. Da capa, sorria-me a fotografia de uma criança. Talvez tivesse sido aquela a minha inspiração espontânea e de que nem dera conta. Mas, inspiração ou não, nada me fazia crer que aquele fosse um sorriso verdadeiro. Mas as minhas palavras sim, essas eram sinceras, não obstante de serem um esboço do que poderia vir a ser um sorriso.
Talvez uma imagem valha mais que mil palavras mas, de momento, só estas palavras me sorriem.
1 comentário:
Leto,
Como diz o velho ditado "Guardado está o caderno para quem o há de escrever."
E essa procura da Realidade, ainda que não necessariamente a nossa, é sempre um bom banquete. Verdade ou ficção, real ou ilusão - no que se escreve - que a procura seja sempre Verdadeira.
Abraço,
Gotik Raal
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