Através da janela suja por dentro pelas dedadas de tinta fresca, espreito o mundo. Espreito e vejo a sujidade que macula o exterior que definha a cinzento profundo. Depois, miro a tela vazia. Idealizo os sonhos de esperança, sementes da imaginação, da utopia e do sorriso de uma criança. Então, de paleta e pincel na mão, descrevo os sonhos com linhas e cores do coração, que vão de ínfimas a infinitas. Assim, a pintura não tem fim mas, a cada instante, há uma brisa que se liberta fresca da tela, há uma borboleta frágil e esvoaçante que se precipita aos ziguezagues para a janela. Há um riacho que traz até nós a melodia das ninfas e se verte aos meus pés, tentando escapar-se por debaixo da porta. Há um perfume a prado e Primavera que flutua no ar, há a inspiração da Natureza e do seu amar. Há um pouco de tudo. Pois quem não quereria o poder de um deus para ilustrar o Universo com a própria mão? A este chamar-se-ia o Dom Artístico da Criação.