Silver Leaf, by Latyrx |
Divyn vagueou
pelo bosque, olhando por ente os ramos, enquanto escutava o peculiar tilintar
das folhas quando o vento as agitava. Lembrava a voz das fadas, enquanto
cantavam aos elementos.
“Escolhe uma
árvore” disse Urië, sem aviso, apertando-lhe um pouco mais a mão.
– Porquê? – A
elfo piscou os olhos.
“Por favor,
simplesmente escolhe” pediu ele, esboçando um sorriso enigmático.
Apesar de não
fazer ideia da razão do pedido, Divyn acedeu. Fechou os olhos e caminhou sem
destino certo, deixando-se guiar pelo sexto sentido. Tropeçou numa raiz mais
saliente e só não caiu porque Urië a apoiou. Mas, por fim, a mão acabou por
tocar num dos troncos.
– Esta –
sussurrou, abrindo os olhos para contemplar a sua escolhida. Linhas de prata corriam a casca , esguias, perdendo-se nos labirintos da árvore.
O seu príncipe
fez um aceno e esticou as mãos para um ramo mais baixo. Colheu uma pequena semente, que lembrava uma ervilha prateada e observou-a com atenção, antes de pegar na mão da elfo e depositar nela a semente. A seguir fechou-lhe os dedos.
“Uma
recordação, pelo teu aniversário. O sítio onde a plantares terá de ser
escolhido pelo teu coração, e só por ele” recomendou, prendendo o olhar no
dela. “Não te assustes quando ela desabrochar”.
Franziu as
sobrancelhas.
– Porque me
haveria de assustar? – quis saber, muito intrigada.
“A semente
drena a terra de forma ávida, para conseguir despontar. Mas depois verás”
garantiu.
Divyn remoeu-se de curiosidade e Urië sorriu ao sentir o que
borbulhava na alma da namorada. Ofereceu-lhe um beijo de consolo, para depois a levar para casa.
Os lábios só
se apartaram definitivamente quando ele abandonou o quarto dela, ao despontar
do Sol.
Quando
acordou, já perto da hora de almoço, Divyn procurou a caixinha de madeira
dentro da qual guardara a semente. Ponderou por um pouco, antes de descer até
ao jardim, onde andou às voltas, de regador na mão, até acabar por escolher um
canteiro de pequenas flores azuis. Ajoelhou-se na terra ainda húmida e escavou um buraco com as próprias mãos,
sujando as unhas de terra, até achar que já podia enterrar a semente. Ficou a mirar o lugar por um
bocado, como se a árvore pudesse crescer de um segundo para o outro, mas acabou por perceber o quão tonto isso era. Abanou a cabeça e afastou-se.
No dia
seguinte um burburinho matutino acordou-a. Esfregou os olhos e soltou um bocejo
longo, antes de ir até à varanda, ainda descalça. Piscou os olhos. Os três
jardineiros discutiam de forma acesa, à beira do canteiro onde plantara a sua
semente de prata, e não foi difícil descobrir porquê: todas as pequenas flores
azuis tinham definhado e morrido.
Levou as mãos
à boca, chocada, lembrando-se de imediato do que Urië lhe dissera. Não o compreendera no momento, mas agora era por demais óbvio. Mas o que poderia fazer?
Os dias
passaram sem que a árvore despontasse, o mesmo acontecendo em seu redor, num raio de dois
metros. Todos os dias a elfo regava-a um pouco, frustrada. Ainda tentou inquirir Urië a respeito disso, no entanto ele pediu-lhe apenas mais paciência.
Quase um mês
depois, numa noite de Lua Cheia, Divyn escutou um tilintar abafado, vindo do
exterior. Não o reconheceu logo, mas quando foi espreitar à vidraça, o brilho
das folhas de prata, sob o luar, apanharam-na desprevenida. A árvore despontara, ultrapassara-a em altura, e estava repleta de flores de pétalas quebradiças. Sentando junto à
base da árvore, Urië fez-lhe um aceno com a mão, chamando-a para admirar mais de perto o seu presente de aniversário.
Uma semana
depois, para surpresa sua, e dos jardineiros, o canteiro de flores azuis floresceu mais viçoso do que nunca, quando
a árvore devolveu os recursos que tomara emprestados.
Nota:
Divyn ©
Morgana Du Lac (Ana Santo)
Urië © me
Ambas as
personagens pertencem ao RPG "Terra Negra"