domingo, 15 de dezembro de 2019

Dolorosa é a verdade


Dolorosa
É a verdade que paira
Qual ave de marfim pálido,
Frio e cru. Sábio
É aquele que com ela baila
De mão dada.


Painful
Is the truth that hovers
As a bird of pale, cold
And raw ivory. Wise
Is the one who dances with it
Hand in hand.

Hurad Duruvan

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Alone with the cold


Miranda - The Tempest, by John William Waterhouse (1916)


Alone with the cold,
Alone with the tides of time,
I whisper to the old
Deep past of mine.

It sank in the years
Beyond the edge of mortality,
Taking dreams, tears and fears
And their own reality.

Will it come back to learn
What it hasn't learnt before?
Will it be able to discern
The lost way to the shore?

The waves which bring the future
Are uncertain but they unfold
Unknown changes that can nurture
The old past I still hold.
Hurad Duruvan

domingo, 17 de novembro de 2019

É certa


É certa
A incerteza que me habita,
Tão certa quanto a melancolia
Da despedida
E a lágrima escondida
Que o olhar contém.

*

It is certain
The uncertainty that dwells in me,
As certain as the melancholy
Of farewell
And the hidden tear
The eyes hold.

Hurad Duruvan

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Corres sem alcançar


Corres sem alcançar
O que o alcance tem a dar;
Corres vendo-o partir
E a roubar de ti
Esperança e certeza
De que há beleza
No que é real.

*

You run without reaching
What reach has to give;
You run watching it leaving
And stealing from you
The hope and certainty
That there's beauty
In reality.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Roubo o rio da vida


Roubo o rio da vida
E o seu deleite de correr
Para a foz do coração;
Roubo e tomo-o para mim,
Sem de mim nunca ser;
Serei somente
Ladrão.

*

I steal the river of life
And its delight
Of running to the mouth of the heart;
I steal it and take it for myself,
Without it ever being mine;
I will only be
A thief.
Hurad Duruvan

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Triste como a saudade


Triste como a saudade,
Disperso-me ao vento do amanhecer.
Sou cinza sem idade
E semente que sem arder
É liberdade.

*

Sad as yearning,
I disperse myself in the wind of dawn.
I’m ageless ash
And seed that without burning
Is freedom.

Hurad Duruvan

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

São palavras no vazio


São palavras no vazio,
As que sem se dizer
Dizes para ti,
As que sentes no sentir
Não expresso,
E que definham
No coração.


They are words in the void,
The ones that without saying
You say to yourself,
The ones you feel
In the unexpressed feelings,
And that languish
In your heart.

Hurad Duruvan

sábado, 7 de setembro de 2019

Nada mais é a perfeição


Nada mais é a perfeição, 
Senão um sonho disperso 
Que o Imperfeito escreveu em verso, 
Enquanto no seu coração 
Procurava 
O inexistente que nos falta. 


Perfection is nothing 
But a scattered dream 
The Imperfect put in verses, 
While in its heart 
It sought after 
The nonexistent that we miss.

Hurad Duruvan

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Sou um corpo de alma vaga


Sou
Um corpo de alma vaga
E a névoa que se condensou
Do álgido raiar da morte. 


I am
A body of vague soul
And the condensed mist
Of the algid dawn of death.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Nada mais é a morte


Nada mais é a morte
Que a imortalidade
De ser o mundo.

*

Death is nothing more
Than the immortality
Of being the world.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Suspiro ao vê-lo passar


Suspiro ao vê-lo passar,
O Tempo que vai
E não mais volta.
Revolto-me
Com a sua constância
Indiferente,
O seu lento tardar,
E a ânsia de devorar
O Futuro.
*

I sigh as I see it pass,
The Time that goes
And never comes back.
I rebel
Against its indifferent
Constancy,
Its slow lingering,
And the eagerness of devouring
The Future.

Hurad Duruvan

Sei não ser quem sou


Sei não ser quem sou,
Sendo a verdade
Que ludibria a mentira
E rouba ao engano
A fracção d’ilusão
Que lhe inspira vida.

*

I know not to be who I am,
Being the truth 
That deceives the lie 
And steals from deception 
The fraction of illusion 
That inspires its life.

Hurad Duruvan

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Diviso o sorriso da Morte


Diviso o sorriso da Morte
No olhar do mundo.
É terno, como o de uma mãe
Que observa cada trémulo passo
De sua cria.

*

I see the smile of Death
In the world's eyes.
It is tender, like that of a mother
Who watches every trembling step
Of her child.

Hurad Duruvan

sábado, 15 de junho de 2019

Quero perder a alma


Quero perder a alma. 
Da existência, 
Que fique somente a concha 
Vazia. 
Que o mar a leve 
No seu abraço. 


I want to lose my soul. 
Of existence, 
Let only the empty shell 
Remain. 
May the sea carry it 
In its embrace.


Ayalal,
04.Rova.4711

sábado, 11 de maio de 2019

Perdida


Perdida,
A inocência jaz esquecida
Nas mãos do mundo.

Encontra-a.

*

Lost,
Innocence lies forgotten
In the hands of the world.

Find it.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Dar-te-ia a eternidade


Dar-te-ia a eternidade 
Pintada a ouro, 
Fosse ela liberdade 
E ancoradouro. 
Porém é somente prisão 
De quem vagueia 
Sem intento ou coração. 


I would give you eternity 
Painted in gold, 
If freedom and berth 
It were. 
But it is only the prison 
Of those who wander 
Without intent or heart.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A verdade quebra e toma a vida


A verdade quebra e toma a vida
Dos que criam os seus mundos de vidro
Com afiados fragmentos de mentira.

*

Truth breaks and takes the lives
Of those who create their glass worlds
With sharp fragments of lies.

Hurad Duruvan

terça-feira, 16 de abril de 2019

Vendi a alma aos deuses


Vendi a alma aos deuses
Que não o são.
Troquei-a pelo vazio de ser
E pela continuidade de viver
Sem coração.

*

I sold my soul to gods
Who are no more.
I exchanged it for the emptiness of being
And for the continuity of living
Without a heart.

Hurad Duruvan

quarta-feira, 27 de março de 2019

A Indignação dos Ignorantes


Indigna-se o ignorante 
Que não sabe 
Que o que julga saber 
É somente o que restou 
De quem ignora
O acto de conhecer.

*

Outraged is the ignorant
Who doesn’t know
That what he thinks he knows
Is only what remains
From who ignores
The act of knowing.


sábado, 23 de março de 2019

O que te diz o que passou?


O que te diz o que passou?
"Tarocchini di Bologna"
by Guiseppe Maria Mitelli,1664
O que te diz o que passará?
O que te diz o que foi,
E o que nunca será?

As cartas falam-te com o olhar
Que transcende o pensamento,
E são alma que ruma incerta
Por entre os segredos do Tempo.

Olvidam a escolha do que é,
Para que seja o espírito a escolher,
E indicam, sem indicar, o trilho
Do que poderá ser.

Por isso, sem demasiado pensares,
Decide pelo que te faz sentir,
Seguindo o rumo por ditar
E o Futuro por decidir.

*

What does ‘what happened’ tell you?
What does ‘what will happen’ say to you?
What do ‘what it was’
And ‘what will never be’ speak to you?

The cards talk with eyes
That transcend the thought,
And they are the soul that rummages uncertain
Through the secrets of Time.

They forget the choice of what it is,
So that your spirit may choose,
And they show, without showing,
The path of what can be.

So, without too much thought,
Decide for what makes you feel,
Following the unspoken road
And the undecided Future.

Dedicado à Suri.
Ayalal,
31.Arodus.4711

quarta-feira, 6 de março de 2019

Quando a Utopia adormece


Quando a Utopia adormece,
Sonha contigo
A ampará-la em teus braços.
Susténs-lhe o suspiro
Dos cansaços
E as lágrimas de desilusão,
E cantas-lhe esperança,
Enquanto pousas o Mundo
Na sua mão.


When Utopia falls asleep,
It dreams of you,
Holding it in your arms.
You sustain
Its sigh of weariness
And disillusion tears,
And sing it hope,
As you lay the World
On its hand.

Hurad Duruvan

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Há melancolia na voz do vento


Há melancolia na voz do vento;
Porém sorrio, de rosto erguido,
Ao engano de ser feliz.

*

In the voice of the wind there is melancholy;
But I smile, with my face upright,
To the deception of being happy.

Hurad Duruvan

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Por vezes perco-me


Por vezes perco-me,
Nos meandros de pensar que sou
Quem não sou;
Perco-me na nostalgia
De quem fui em tempos,
Sem o ser;
E pergunto-me se serei eu,
Ou outro alguém,
No nascer do amanhã.

*


Sometimes I lose myself
In the meanders of thinking that I am
Who I am not;
I lose myself in nostalgia
Of who I once was,
Without being it;
And I wonder if I will be me,
Or somebody else,
When tomorrow dawns.


Hurad Duruvan

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Há quem se habitue a viver


Há quem se habitue a viver, 
E viva porque sim.
Mesmo quando a vida não o quer,
É incapaz de a deixar partir,
Prendendo-a ao querer,
Sem saber
Que não deve existir.

*

Some people get used to living,
And live because they do.
Even when life does not want it,
They are unable to let it go,
Imprisoning it to their desire,
Unknowing
That it must not exist.

Hurad Duruvan

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Aves Sem Canto


Sem rosto, eles torturam e matam 
O pensamento de outrem, 
Para que não haja quem 
Seja livre de pensar. 

A razão é sua e só é livre 
Quem da liberdade deu a mão. 
Fechadas em sua prisão, 
São aves sem asas. 

E aves sem canto. 


With no face, they torture and kill 
The thought of others, 
So that no one is free 
To think. 

Reason is theirs and the only ones who are free 
Are those who gave up freedom. 
Locked in their prison, 
They are birds with no wings. 

And birds with no song.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Tentei falar com a incerteza


Tentei falar com a incerteza,
Mas as palavras duvidaram de si,
Como quem duvida da certeza
De existir.

*

I tried to speak with the uncertainty,
But the words doubted themselves,
As who doubts the certainty
Of existance.

Ayalal,
22.Sarenith.4711

sábado, 19 de janeiro de 2019

Tomei o veneno da mágoa


Tomei o veneno da mágoa 
E de mim adoeceu a alma. 

Tingi-me do negro da peste 
Pintada de um febril cansaço, 
E tremi com a dor crescente, 
Tumor senciente, 
E estilhaço. 

Sepultei a razão,
Na cova que era o mundo.

*

I took sorrow’s poison
And ill my soul became.

I dyed myself in the black of plague
Painted of a feverish weariness,
And trembled with the growing pain,
Sentient tumor,
And shard.

I buried reason
In the grave that was the world.

Ayalal,
21.Sarenith.4711

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Vida fala-nos sobre a morte


A Vida fala-nos sobre a morte 
Da cobardia, 
E do definhar do medo 
De viver. 

*

Life speaks about the death 
Of cowardice, 
And the languishing of the fear 
Of living.

Ayalal,
19.Sarenith.4711

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Por vezes, canso-me de estar vivo


Acheron, Reinhold Kukla (1902)

Por vezes, canso-me de estar vivo
E sigo em passo incerto,
No limiar do crepúsculo que me estende a mão
E do sussurro da escuridão.

Vejo, no entanto caminho cego,
E a cada dia aguardo o amanhecer;
Tanto aguardo, que por vezes meu coração
Sente que aguarda em vão.

Porém, nunca paro.
Ela segue diante de mim,
Inspirando a vontade e prostrando a hesitação;
É à Esperança que dou a mão.

*

Sometimes I get tired of being alive
And I walk in uncertain step,
On the threshold of twilight that reaches out to me
And the whisper of darkness.

I see, but I walk blind,
And every day I wait for dawn;
I wait so long that sometimes
My heart feels that it vainly waits.

However I never rest,
Because It follows before me,
Inspiring the will and prostrating the hesitation;
It is to Hope that I give my hand.

Ayalal,
18.Sarenith.4711