quarta-feira, 23 de julho de 2014

Senta-te e aproxima-te do pensamento


Senta-te e aproxima-te do pensamento.
Observa-o ao largo, sem idade.
É tão demente que é são,
Alma tricotada a piedade,
E terrível besta sem coração.

Identifica-lo. Passo ante passo,
Cautela se é verdade que muta,
Conquanto indefinido. Olhar baço
De quem está e não está, permuta,
É brisa doce e suspiro de aço.

Então perde-te, na orla de floresta negra,
Onde o sopro tem perfume a maresia,
As folhas são de cor mil, oceano,
E o céu, teu, tão teu, é magia,
Mundo além, mundo arcano.

Imiscui-te. Idílico, vagueias
Onde o Nada, se labirinto, é escudo,
Compreensão de lâmina cega, espadachim,
Canto de quem tem o tom mudo,
Finito – quão finito? –, que não lhe vês fim.

Subsiste o complexo de raiz profunda,
Com e sem tronco, ignoto ao olhar.
Não o nomeies, é selvagem, etéreo, desnudo,
Do qual o grito, eterno rumorejar,
É o resto, e tão somente Tudo…

Faz do pensamento teu Lar.


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