- Parte I -
Era uma vez, numa torre alta que rompia as nuvens, uma princesa de nome Aline. Ela era diferente das donzelas restantes daquele reino remoto – não trajava qualquer vestido, mas uma roupa pouco típica da época deste conto: jeans, uma camisa e ténis práticos. Na sua expressão podia ler-se o mau humor de viver enclausurada num quarto sem portas, e à sua volta via-se como já expressara o permanente estado de espírito através dos pratos e copos partidos, o dossel da cama rasgado e uma desarrumação que meteria respeito à criança mais rebelde. Porém, por entre tudo aquilo, um espelho alto mantinha-se intacto. Atípico, pensam alguns, que imaginariam que aquela seria a primeira relíquia a ser estilhaçada por entre os ataques de fúria que consumiam a princesa mais vezes do que o recomendável. Mas vou contar-vos um segredo: nem o golpe de um ogre seria capaz de quebrar o espelho, e esta não é a sua única particularidade. Quem se aproximar o suficiente para espreitar por ele, não verá o próprio reflexo. Mas não se assustem, não foram transformados em vampiros sem darem conta. A verdade é que, por entre todas as paredes unas, aquela é uma das únicas formas de se entrar na torre. Quem quisesse sair teria de usar a janela, e não era recomendável fazê-lo porque a aterragem não estaria munida de simpatia.
É então este o cenário que temos dentro da torre da princesa Aline. Sei de antemão que se estão a perguntar quando virá o príncipe para a salvar. Digo-vos, ele aproxima-se celeremente, montado num corcel da mais pura brancura. Do cimo da torre, a donzela escutava-o e preparou-se. Pegou na besta, já montada ao seu lado, e aproximou-se da janela. Ela achava que deveria ser mais algum tarado a pedir-lhe para lançar o cabelo. O seu cabelo era castanho e dava-lhe pelos ombros, estava longe de ter aparência de Rapunzel.
Ninguém gritou por si, para que espreitasse, no entanto deixara de escutar o galope, o que significava que o cavaleiro tinha parado. De súbito, ele apareceu à janela e Aline deu um salto, disparando o virote que falhou o alvo, cravando-se numa das falhas entre as pedras da parede.
– Hey, Hey! Por favor, princesa, venho em paz! – Disse ele de imediato, não fosse ela voltar a disparar. Mas ela não voltou.
– Amadis, és tu? – Mirava-o, incrédula. – E que roupas são essas?
Ele olhou para si mesmo, depois de ter descido do parapeito da janela. Tinha toda uma indumentária principesca, mas o que mais se realçava à vista era a capa lilás.
– São roupas normais, minha princesa. Como sabeis o meu nome? – Retribuiu o olhar. – Nunca vos tinha visto antes, e vós nunca me haveis visto. Sonhasteis comigo?
Aline franziu as sobrancelhas, desconfiada.
– Eu não gosto que gozem com a minha cara, Amadis, por isso acaba com as parvoíces…
Ele abanou a cabeça, sem compreender o que ela estava para ali a dizer. Começou a ponderar na hipótese de aquela princesa ter enlouquecido por todo o tempo que ali ficara fechada.
– Vim salvar-vos do vosso cárcere, bela donzela – declarou, abrindo os braços. – Vinde comigo e levar-vos-ei de regresso ao reino onde pertenceis.
Ela ponderou por um pouco, mas nunca considerando agarrar-se a ele.
– Tu não me conheces, dizes. És deste mundo, então. E vieste salvar-me só porque sim? Não queres nada em troca, como casar-te comigo porque pensas que sou filha de um rei qualquer?
– Não estou interessado em riquezas, se é o que pensais. Nem a desposarei, se não for essa a vossa vontade – afirmou, com toda a dignidade. – Estou somente aqui para salvar a bela princesa.
– Eu não sou princesa – declarou, pousando a besta e tirando do bolso uns pequenos binóculos. Aproximou-se da beira da janela e espreitou lá para baixo. – Amadis, aquilo é um unicórnio?
– Não… não sois? – Perguntou, com uma ignorância inocente de quem nunca imaginara tal coisa. – Sois o quê, então? Uma bruxa disfarçada que me quis capturar?
Aline lançou-lhe um olhar de soslaio, algo ameaçador.
– Chamo-me Aline e sou caçadora de vampiros.
O príncipe só não empalideceu porque, na verdade, já era imensamente pálido. Mas felizmente não brilhava ao Sol.
– Então… foi tudo preparado para me capturar e matar? Foi isso? – Amadis recuou um passo. – Que jogo vil e cruel. Subi a esta torre para vos salvar e recebo uma estaca no coração! Aquele virote estava embrenhado em água benta, não estava?!
A suposta princesa semicerrou os olhos, revelando a sua tão típica falta de paciência para aturar conversas daquele género.
Era uma vez, numa torre alta que rompia as nuvens, uma princesa de nome Aline. Ela era diferente das donzelas restantes daquele reino remoto – não trajava qualquer vestido, mas uma roupa pouco típica da época deste conto: jeans, uma camisa e ténis práticos. Na sua expressão podia ler-se o mau humor de viver enclausurada num quarto sem portas, e à sua volta via-se como já expressara o permanente estado de espírito através dos pratos e copos partidos, o dossel da cama rasgado e uma desarrumação que meteria respeito à criança mais rebelde. Porém, por entre tudo aquilo, um espelho alto mantinha-se intacto. Atípico, pensam alguns, que imaginariam que aquela seria a primeira relíquia a ser estilhaçada por entre os ataques de fúria que consumiam a princesa mais vezes do que o recomendável. Mas vou contar-vos um segredo: nem o golpe de um ogre seria capaz de quebrar o espelho, e esta não é a sua única particularidade. Quem se aproximar o suficiente para espreitar por ele, não verá o próprio reflexo. Mas não se assustem, não foram transformados em vampiros sem darem conta. A verdade é que, por entre todas as paredes unas, aquela é uma das únicas formas de se entrar na torre. Quem quisesse sair teria de usar a janela, e não era recomendável fazê-lo porque a aterragem não estaria munida de simpatia.
É então este o cenário que temos dentro da torre da princesa Aline. Sei de antemão que se estão a perguntar quando virá o príncipe para a salvar. Digo-vos, ele aproxima-se celeremente, montado num corcel da mais pura brancura. Do cimo da torre, a donzela escutava-o e preparou-se. Pegou na besta, já montada ao seu lado, e aproximou-se da janela. Ela achava que deveria ser mais algum tarado a pedir-lhe para lançar o cabelo. O seu cabelo era castanho e dava-lhe pelos ombros, estava longe de ter aparência de Rapunzel.
Ninguém gritou por si, para que espreitasse, no entanto deixara de escutar o galope, o que significava que o cavaleiro tinha parado. De súbito, ele apareceu à janela e Aline deu um salto, disparando o virote que falhou o alvo, cravando-se numa das falhas entre as pedras da parede.
– Hey, Hey! Por favor, princesa, venho em paz! – Disse ele de imediato, não fosse ela voltar a disparar. Mas ela não voltou.
– Amadis, és tu? – Mirava-o, incrédula. – E que roupas são essas?
Ele olhou para si mesmo, depois de ter descido do parapeito da janela. Tinha toda uma indumentária principesca, mas o que mais se realçava à vista era a capa lilás.
– São roupas normais, minha princesa. Como sabeis o meu nome? – Retribuiu o olhar. – Nunca vos tinha visto antes, e vós nunca me haveis visto. Sonhasteis comigo?
Aline franziu as sobrancelhas, desconfiada.
– Eu não gosto que gozem com a minha cara, Amadis, por isso acaba com as parvoíces…
Ele abanou a cabeça, sem compreender o que ela estava para ali a dizer. Começou a ponderar na hipótese de aquela princesa ter enlouquecido por todo o tempo que ali ficara fechada.
– Vim salvar-vos do vosso cárcere, bela donzela – declarou, abrindo os braços. – Vinde comigo e levar-vos-ei de regresso ao reino onde pertenceis.
Ela ponderou por um pouco, mas nunca considerando agarrar-se a ele.
– Tu não me conheces, dizes. És deste mundo, então. E vieste salvar-me só porque sim? Não queres nada em troca, como casar-te comigo porque pensas que sou filha de um rei qualquer?
– Não estou interessado em riquezas, se é o que pensais. Nem a desposarei, se não for essa a vossa vontade – afirmou, com toda a dignidade. – Estou somente aqui para salvar a bela princesa.
– Eu não sou princesa – declarou, pousando a besta e tirando do bolso uns pequenos binóculos. Aproximou-se da beira da janela e espreitou lá para baixo. – Amadis, aquilo é um unicórnio?
– Não… não sois? – Perguntou, com uma ignorância inocente de quem nunca imaginara tal coisa. – Sois o quê, então? Uma bruxa disfarçada que me quis capturar?
Aline lançou-lhe um olhar de soslaio, algo ameaçador.
– Chamo-me Aline e sou caçadora de vampiros.
O príncipe só não empalideceu porque, na verdade, já era imensamente pálido. Mas felizmente não brilhava ao Sol.
– Então… foi tudo preparado para me capturar e matar? Foi isso? – Amadis recuou um passo. – Que jogo vil e cruel. Subi a esta torre para vos salvar e recebo uma estaca no coração! Aquele virote estava embrenhado em água benta, não estava?!
A suposta princesa semicerrou os olhos, revelando a sua tão típica falta de paciência para aturar conversas daquele género.
Continua...
16 - Aline
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