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Ouçam-no clamar, dos confins,
Os tempos idos que agora são.
Ouçam e atentem, que o mostrengo
Clama baixo sussurro dúbio do mar.
Não grita como outrora falou,
Para a vós não assustar.
E o sussurro é engodo à presa,
Ouçam o Poeta, que vos avisou!
Que hoje os batentes do mar
Tremeram ao vento fraco da brisa,
Tremeram e quase caíram
Nos tormentos do afundar.
Ai, Pessoa, digo que a razão
Era tua, aquela, a da loucura.
E os mostrengos são eles
Os Grandes que nos vão matar
Esperanças que bracejam vãs
E que se estão a afogar.
Por isso remem, marinheiros,
Remem rumo à contra-maré.
Que por temor se esvai o monstro
Para o profundo do não voltar.
Remem, para pátria nossa e seu fulgor
Nos baixios secos não naufragar.
(Tema: Fernando Pessoa e a Crise do País
Para um concurso da FCUL)