sábado, 11 de julho de 2009

A Gárgula


A chama da candeia tremeluzia por entre a densa escuridão, enquanto se aproximava do altar fúnebre da igreja. Por qualquer razão desconhecida, aquele local encobria-se de escuridão. Nenhuma tocha acesa o alumiava e os vitrais não permitiam a passagem do inexistente luar.

Subitamente, escutou um estalar ruidoso, provindo de um dos cantos da igreja, e estacou, com mais medo do que um ladrão profissional deveria ter. A mão procurou o bolso das calças, retirando um canivete que se apressou a abrir. Avançou na direcção do barulho, de arma empunhada, a candeia revelando, metro a metro, o caminho à sua frente. Encontrou somente uma parede e uma recurvada estátua de três chifres e garras tão afiadas quanto um felino selvagem. Não percebia como permitiam que tal horror permanecesse dentro da igreja, competindo com a pacificidade dos santos.

Encolheu os ombros e voltou costas à gárgula, continuando até ao destino, onde se encontravam expostos os pertences em ouro e as estatuetas mais preciosas. Um novo estalar fez-se escutar, mas desta vez ignorou-o. Não deveria passar de uma ratazana esfomeada, explorando a igreja em busca de migalhas… Novo ruído de pedra contra pedra, mas baixo, muito baixo. Estendeu a mão para uma peça que representava a Virgem Maria. Porém, algo o deteve. Um bafo quente tocou-lhe o pescoço e o ladrão voltou-se, de arma em punho, pronto para cortar a garganta ao padre que interrompera o seu saqueio. O canivete deslizou sobre a pedra, soltando faíscas, mas depressa caiu ao chão. Dois olhos rubros fitavam-no da face pétrea da gárgula que vira ao canto da igreja, tão morta quanto qualquer pedra poderia estar. Mas aquela não estava e os lábios arreganhavam-se, mostrando as presas assassinas. Não conseguiu gritar, a voz estrangulando-se-lhe na garganta. O coração falhou e ele morreu do mais puro terror.

Texto para um passatempo do Correio do Fantástico

4 comentários:

HornedWolf disse...

Estou curioso, como serão as coisas vistas do lado da Gárgula?

Vou quase a meio do teu livro, tive de interromper mas espero agora poder voltar à carga.

*

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Muito mais românticas, imagino eu.

Não precisas de ter pressa, quanto a isso xD

Abraços!

Z de Zé disse...

Também quero uma Gárgula-guarda para o meu quarto. Ou pelo menos aprender a matar pessoas de susto. Gostei do texto, sendo que algumas expressões estão muito bonitas, nomeadamente "os vitrais não permitiam a passagem do inexistente luar". Gostei muito desta.

Brid disse...

MATASTE O POBRE HOMEM!

Má -.-

LOOOL xDDD

(Fui uma das primeiras críticas!! ahahah)