Era uma vez uma história pequenina, tão pequena que ninguém a via. Mas que queria ser vista. Saltava insistente por cima das cabeças, escorregava ligeira, por entre as multidões, e postava-se diante delas, mas para o mundo, era tão e simplesmente invisível. E ela chorava. E amaldiçoava todas as outras histórias que eram conhecidas e amadas, apontava as que eram odiadas e clamava ser injusto! Pois, só porque era pequenina, ninguém dela sabia.
Então, um dia, decidiu crescer. Pegou num lápis e escrevinhou em si letras sem sentido e frases perdidas, ilustrou loucura e pintou-a da cor do impossível desconhecido. Mascarou-se e tornou-se outra e, a partir desse instante, passou a ser vista, passou a ser falada na boca das multidões, enquanto se bamboleava pelas ruas onde quem a via passar acenava descrente e clamava: É doida a história que ali vai, é dita sem sentido e impossível de existir!
Mas eu disse que não. Não era doida, era sã. Cheia de um pouco do mundo, ilustrando-o como visão de algo mais. E que algo era esse? Oh! Era algo belo! Riscos que se entrançavam, uma língua distante que só poucos compreendiam: a linguagem do coração, a fala dos sentidos, o canto dos sentimentos e o toque do ignorado. Era, somente, diferente, como outrora. No entanto, agora um diferente notável, um diferente apontável. Um diferente que marcava e escrevia por cima do escrito. E que ficaria na história, pois não permitiria eu que apagadas fossem essas letras ditas de loucura. Pois loucos eram aqueles os que olhavam a superfície que os reflectia num mar de frases desditas…
E digo-vos mais. Uma história pode contar muitas outras histórias, ficando o interpretador por sua própria conta e risco. É um jogo perigoso. E aquela história pequenina que se tornara grande contava muitas, e dessas muitas, algumas matavam sem compaixão, outras torturavam, de tão cruéis que eram, e outras ainda, eram fénixes que se erguiam renascidas da cinza de um mundo cadente. Eram flores que floriam e murchavam, num simultâneo bailado onde uma cor era única e a mistura de todas. E chamavam eles isto de loucura! Eu chamo de Visão. Que o Pequeno escreve Grande!
E tudo isto para dizer que o escrever é imortal, que as palavras são o reflexo dos mundos e que todos o podem fazer com o querer que transmuta e revolve o certo e o errado, que abole os conceitos e as leis. Que chama a magia e a razão e as envolve num misto doce do que é a verdade.
Por isso, ofereço-te este conselho de loucura… escreve, que a tua escrita é o mundo.
Dedicado ao Kiko ^^
6 comentários:
Lindo. Adorei o início, o «era uma vez», e a transformação que foi ocorrendo ao longo do texto. Continua a escrever, Leto... que a tua escrita é o mundo.
Tiago
Ooooh, está tão belo! ^^ Existem muito poucas coisas mais perfeitas que a escrita, colocar a nossa imaginação à prova e deixar-nos levar por mundos e mundos infinitos. Continua, adoro ler-te :)
"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar."
(Monteiro Lobato)
...e tu, qual é a tua história? Abraços
Fofa, fofa, fofa.
E o texto está soberbo, como sempre ^^
Obrigado, leto. ^^
Sejamos loucos
Obrigada a todos ^^
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