quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Síndrome da Fantasia (Parte II - O Deserto)

O navio atracou no mar do deserto, lançando âncora sobre as areias frescas da manhã. O Sol acabara de nascer e estendia os seus vagos e etéreos raiares corpusculares numa aurora que respirava esplendor. Desci rapidamente para o solo mole e algures movediço, inspirando o ar quente que ainda estaria para vir. Porém, nesse ar pendiam ínfimas gotas dos cinco elementos sagrados. Podia sentir o Fogo que não queimava, mas aquecia; a Água que não afogava, mas hidratava; o Ar que não asfixiava, mas respirava; a Terra que não soterrava, mas nascia; e a Vida, essa que não matava, mas vivia. E tudo isso numa simples inspiração.

Também sentes? Não sentes?! Oh… Já me pergunto o que farei aqui contigo e porque razão me continuas a seguir se nada consegues vislumbrar, com ou sem o olhar! Responde-me porquê. Não queres responder? Ah! Criatura pérfida… deixas-me então na expectativa? Como quiseres então. Continuarei o meu caminho, até às florestas além deserto do mar. Se quiseres, segue-me. Mas depois não te queixes caso os elementos não sustentem essa tua ignorância e insensibilidade, e desfaleças aos muitos e muitos, pois aqui não esperes que seja aos poucos e poucos. Se Eles acharem que não mereces continuar, não continuarás. Não te importas? Bem, louvo a tua coragem, mas padeço pela tua insensatez. Almejo luz para o teu espírito, e que ele te saiba encaminhar, pelos trilhos cerrados do tudo e do nada.

Continuei em frente, seguindo o meu instinto que, por sua vez, seguia aquele doce manjar que pairava qual perfume das fadas. E ele seguiu-me também, inconsciente e descrente humano. Não havia ali qualquer sereia que o encantasse, mas seres muito mais revoltos que adoravam banquetear-se de mentes sãs, tornando-as insanas, que sublimavam almas humanas ao ponto de as cobiçarem unicamente para si. E o quanto encantava uma exótica serpente! Sim, era um local dito perigoso. E a fraca brisa que o Deus Vento nos enviava, avisava-nos de tal. Mas o meu companheiro não o escutava, virando de vez em vez, a cabeça para o navio que abandonava entre a imensidão. Pobre ignorante.

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