sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Tronco do Carvalho Ancião

A firmeza a que te recostas foi rendilhada em chagas de sabedoria; pespontada a dourado que o tempo deixou, algures perdido em confins sem retorno; e, por fim, enrugada em folhos de belo traje de salão de baile, rico de simplicidade, onde despontam esmeraldas e florescem safiras, sob um sorrir que se ergue tão longínquo, onde só os grandes se atrevem a ir.

Tacteias cada encruzilhada que se lhe inscreve, seguindo, trôpego, trilhos que não constam nos mapas da tua memória. Pois esses labirintos murmuram caminhos para outros mundos, não avisando escarpas ou montanhas, mas clamando candeias que te iluminam, se assim te destinou o fado. E segue-las de olhos fechados e espírito aberto, por caminhos de terra batida e raízes que te afagam o corpo com desejo de contigo ficar. Contudo continuas a ziguezaguear, seguindo as luzes bruxuleantes e esquecendo olhos que te espreitam, escondidos do negro que se perde sob os passos que caminhas sem caminhar.

De súbito, paras o teu avanço e escutas o silêncio que te acompanha. Não o sentes sussurrar palavras indistintas? Sim, sentes. No entanto, não acreditas que o silêncio faça tal. Assim sendo, quem mais te guiaria por entre a escuridão de uma alma que envolve o tempo e o conhece como ninguém? Só aquele a quem as dádivas dos deuses foram concedidas, companheiro e guardião ancestral que vive, viveu e viverá, observando e escutando, vida pulsante a que te entregas, adormecido.